terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Respostas as objeções formuladas pelos céticos: cultura, linguagem, universais e abstração.

D - "Nossas impressões tornam-nos menos críticos na medida em que repetem-se com demasiada frequência." Tropói IX o que é exposto por Sextus do seguinte modo: "Apesar do Sol ser maior do que qualquer cometa nem sua imagem nem seu calor costumam chamar nossa atenção."

M - Justamente porque os fenômenos sucedem-se repetidamente, concluímos a favor de sua existência real.

Tal o caso do Sol, a respeito de cuja existência e esfericidade não nutrimos qualquer dúvida justamente por contempla-lo quase que diariamente.

Por outro lado tanto mais raro é determinado fenômeno e tanto mais propensos somos a duvidar de sua existência.

Não é certamente porque esperamos, que o Sol nasce no dia seguinte ou que a lua continua orbitando em torno da terra...

Não é que a sucessão contínua e repetitiva dos eventos nos torne menos críticos. O que ela nos torna é melhor informados e menos teimosos ou obstinados no sentido de alimentar suspeitas, prevenções e desconfianças infundadas. Ela de fato nos permite superar uma crítica, a princípio justa e louvável, pela posse dum conhecimento a respeito do qual não é possível qualquer tipo de hesitação.

Tanto a repetição constitui o selo da certeza, que as experiências científicas são repetidas milhares de vezes até que se chegue a alguma conclusão. Diga-o Weissman e seus ratos...

D - "Os homens são educados com crenças diferentes, sob diferentes leis e condições sociais distintas." Tropói X assim exposto por Sextus: "Isto diz respeito a regras de conduta, hábitos, leis, crenças e concepções lendárias e idéias fixas."

Pascal também parece admitir tal pressuposto quando assim se expressa: "Engraçada a justiça que esta montanha ou riacho limitam. Verdade aquém dos Pirineus e erro além."

M - Curto, mas demasiado empolgante o espaço concedido a cultura por tais pensadores. Afinal o problema da cultura - ou melhor dos 'costumes' conforme define Thompson (nos 'Usos e costumes..) -pouco chamou a atenção do homem antigo - a exceção de Heródoto, Aristóteles, Dicearco e Possidonius entre os gregos e de Varro entre os antigos romanos - e menos ainda do homem medieval e moderno.

Daí crermos ser conveniente prolongar um pouco este diálogo face a riqueza duma temática ainda tão mal explorada. Ademais estamos persuadidos a respeito que que uma analise mais ampla, detalhada e profunda a respeito da cultura, suas notas e peculiaridades só poderá reverter em benefício do dogmatismo e em detrimento do ceticismo.

Num primeiro momento é importante salientar que estamos analisando a cultura humana. Sem rejeitar que certas espécies de animais sejam capazes de não só produzir como até mesmo de transmitir cultura, nosso interesse neste tópico restringe-se a cultura produzida pelo homo sapiens.

Grosso modo podemos definir cultura como tudo quando tem sido produzido pela espécie humana no decorrer de sua existência.

Há pois uma cultura material e uma cultura imaterial - a primeira responsável pela invenção e confecção do alfinete ou do telefone e a segunda responsável pelo eudemonismo aristotélico, pela doutrina espírita ou pela teoria da relatividade...

A cultura material diz respeito aos bens ou objetos materiais e a cultura imaterial diz respeito a nossa produção imaterial ou espiritual; a 'theoria' dos antigos gregos. Naturalmente que nosso diálogo diz respeito ao segundo aspecto em questão, i é, a produção do conhecimento imaterial, elaborado e reflexivo, ou mesmo intuitivo...

Como no passado remoto e até bem pouco tempo o transporte e a comunicação dependiam de meios bastante precários, havia certo isolamento no que diz respeito aos diversos grupos humanos.

Convém salientar que a descoberta da Oceania aconteceu durante as décadas finais do décimo oitavo século e que sua exploração prolongou-se até o final do século seguinte (XIX). E que tanto na África, quanto na Amazônia e na Oceania, os antropólogos tem encontrado e classificado algumas tribos que jamais haviam tido qualquer contato com o homem 'civilizado'... Assim a globalização - iniciada no século XVI - só se completa no século XX, isto é a pouco mais de cem anos...

Daí ser a cultura, no que concerne ao espaço, caracteristicamente fragmentária ou 'regional' quer em sentido continental/nacional, quer em sentido tribal ou grupal até chegarmos a unidade familiar ou primária. Implica reconhecer a produção de cultura até certo ponto diferenciada ou plural, seja do ponto de vista da religião, quanto do ponto de vista da moral, da organização familiar e social, da estética, do direito, etc como quer e concede Aenesidemus...

Caso neste cenário absolutamente tudo seja relativo e contraditório nada há que deduzir... todavia caso haja algum elemento comum ou universal para além do isolamento regional, neste caso devemos refletir um tanto mais sobre o assunto... e aprofundar a questão.




DA LINGUAGEM


Assim, de chofre, coloca-mo-nos diante do problema da linguagem que é elemento primacial e central tanto de formação quanto de transmissão da cultura.

Sem querer se reducionista julgo que o problema da cultura identifica-se antes de tudo com o fenômeno da linguagem.

D - Nem vejo como possas encontrar algo de universal na linguagem humana uma vez que cada povo, nação, grupo ou sociedade possui um idioma próprio e por assim dizer, distinto de todos os outros. Quem pode pois haver de comum entre as mais diversas linguas ou idiomas? Sou incapaz de percebe-lo.

M - Compreende-se perfeitamente que um leigo como tu - que possui conhecimentos bastante limitados na área da linguagem humana ou como se diz, da linguística - mostre-se inepto para perceber qualquer tipo de elemento unificador ou universal neste campo. O que não se compreende é que certos teóricos como Sapir-Whorf tenham deixado de perceber tais elementos e postulado um 'relativismo absoluto' em torno do fenômeno da linguagem.

Nem é preciso ser um gênio para inferir as ligações existentes entre o relativismo linguístico, o behaviorismo e a metafísica materialista, correspondendo esta ligação a determinada ideologia que procura defender-se na medida em que é anteposta aos fatos concretos. Aqui como no behaviorismo trata-se sempre de justificar ou de vindicar a qualquer custo a crença materialista e de eliminar tudo quanto se lhe pareça opor.

D -  Os vocabulários de línguas diferentes costumam não ser totalmente isomórficos e existem realidades mais facilmente codificáveis em uma língua que em outra.

M - Demonstre.

D - Há cerca de cem anos Franz Boas apresentou o conhecido exemplo de que o esquimó não dispunha de uma única palavra para neve e sim de diversas, uma para cada modalidade de neve, devido à importância que este elemento tem na sua cultura. Por outro lado é assaz sabido que os antigos gregos possuiam dezenas de palavras para designar diversas categorias de copos...

M - Nossa controvérsia com os 'relativistas' não esta focalizada, como muitos creem ou imaginam, na lexicologia ou na morfologia ( que diz respeito das classes ou categorias de palavras consideradas em si mesmas); mas nos elementos primário e essenciais da SINTAXE.

É aqui, no campo da estrutura oracional básica, que postulamos a existência de elementos comuns a todas as formas de linguagem ou universais.

D - Seja mais explícito.

M - Parece que ainda não foram encontradas evidências que nos obriguem para descartar a ideia de que falantes das mais diversas linguas possuam formas aptas para exprimir alguns conceitos fundamentais como: tempo, espaço, número, matéria, quantidade, etc Eu, objeto externo, relação...

Os próprios adeptos do relativismo linguístico estão conscientes face ao problema na medida em que a eliminação ou negação desta estrutura básica comum impediria tanto o bilinguismo quanto a possibilidade da tradução. Os quais sem embargo existem enquanto fenômenos reais pondo em cheque a simples possibilidade dum relativismo absoluto em termos de estrutura linguística ou sintaxe.

D - Caso tenha compreendido corretamento o que quis dizer vossa paternidade esta se referindo a certas categorias fixas (nome, verbo, qualidade etc.), que se encontram na estrutura sintática subjacente de qualquer língua.

M - Podemos acrescentar ainda a existência de universais semânticos que realizam certas funções de designação em todas as línguas. 

D - Explique:

M- Cada língua tem de conter itens lexicais para designar pessoas, certos objetos relacionados com o ser humano, certos comportamentos, sentimentos, etc.

Podemos procura-los ainda no campo semântico formal: nomes próprios (existem em qualquer língua), nomes de cores, termos de determinados objetivos, necessidades e funções humanas, etc.

A existência de universais formais profundos, no sentido sugerido pelos exemplos acima implica admitir que todas as línguas humanas correspondem a um esquema ou a uma estrutura comum.

D - Explicitamente falando substantivo, sujeito, verbo/ação, predicado, qualidade atribuída, objeto externo, etc que são elementos mais ou menos explícitos e que podem ser traduzidos em termos de 'Eu' e de objeto externo ou mundo externo. Implicitamente teríamos sempre presente a noção abstrata do 'Ser'; o que levou Rosmini a formular o ONTOLOGISMO, supondo sua presença inata em todos os homens na medida em que fazendo-se presente em todas as formas de linguagem transcende por assim dizer as limitações temporais e espaciais atinentes a cultura.

M - Aqui cumpre conjecturar a respeito de tais elementos presentes em todas as culturas humanas e por assim dizer universais. Qual seria sua origem? Precederiam eles a todo e qualquer tipo de percepção ou de experiencialidade? Seriam eles inatos ou apriorísticos? Teriam sido infundidos no homem pelo sagrado? Qual seu significado? Ideal? Material?

D - Confesso que tais cogitações e perguntas jamais haviam passado por minha cabeça.

M - Guarde-mo-las na memória pois teremos de retornar a elas mais a frente. Por ora basta considerar que existem elementos universais, comuns e estáveis presentes na base da cultura que é a produção da linguagem.

Aqui Descartes: "Pela mesma razão, mesmo se admitirmos que algumas entidades gerais - corpo, cabeça, olhos, mãos, etc) possam ser imaginárias, forçoso é reconhecer que existe um outro gênero de coisas ainda mais simples e universais, que não podem deixar de ser verdadeiras e existentes, coisas essas de cuja participação todas as imagens de nossa mente são formadas... assim a substancialidade dos corpos e sua extensão; e a quantidade ou grandeza expressa pelo número; assim o espaço em que subsistem e o tempo de duração, e ainda algumas outras coisas..." in "Meditações..."

(Assim o Tempo,  o espaço,  a substancialidade,  a extensão,  a partição,  a proporcionalidade, etc E com muito mais razão: o Eu, o ser ou mundo externo e a relação.)
Baseado em Chomsky

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Respostas as objeções formuladas pelos céticos

D - "Nossas percepções são relativas atuando umas sobre as outras." Tropói 08 Sexto no entanto, assim se expressa: "As diferenças só existem por oposição as demais coisas que existem; donde as coisas diferem com relação a outras coisas? Se diferem são todas relativas a algo... então tudo quanto existe é absolutamente relativo."


M - Grosso modo a faculdade da aesthesis é 'una'.

Todavia o processo de especiação dispoz certos orgãos para certos tipos de qualidades.

Assim a aesthesis tornou-se múltipla na medida em que concentrou-se em determinados orgãos distintos uns dos outros.

Daí as sensações próprias da cor, do som, do odor e do gosto.

Como cada uma percebe um tipo de qualidade diferente não vemos como possam atuar uma sobre a outra indistintamente ou em termos duma intervenção imediata.

Uma impressão jamais atua diretamente sobre outro órgão sensorial produzindo outra impressão; no caso falsa.

Uma impressão no entanto, atuando sobre a imaginação dum percipiente sensível, determina que a imaginação forje impressões ou sensações inexistentes. A imaginação também é capaz de fazer com que a vontade se antecipe a uma percepção dúbia, interpretando-a erroneamente; o que por sinal é bem mais comum.

Daí a necessidade do cientista e do filósofo - como já foi dito anteriormente - educarem a imaginação. Pois é ela, que acreditando estar diante daquilo que deseja, atua diretamente sobre os demais órgãos sensoriais, ora interpretando equivocadamente as impressões mal percebidas, ora produzindo determinadas sensações no caso ilusórias e inexistentes; e conduzindo quase sempre ao erro.

Aqui entraria justamente a virtude da prudência, a qual determinaria uma investigação mais completa a respeito do objeto em questão por meio das demais formas de sensibilidade.

Eis porque julgamos as percepções enriqueçam ou completem umas as outras acrescentando dados a respeito do objeto e tornando-o mais nítido. E que o testemunho dos sentidos deva sempre que possível ser recebido em conjunto...

Segundo nossa opinião cada um deles atua em sua área para que comparando os dados obtidos tenhamos uma visão mais abrangente ou total da coisa.

Quanto a argumentação de Sexto nós jamais negamos que as diferenças ou peculiaridades que caracterizam os diversos tipos de existir, sejam fruto de oposição relativa a outros tantos tipos ou formas de existência. E que sejam inferidas por via de comparação.

Nós bem sabemos que neste sentido os seres são todos relativos uns aos outros. E que nosso conhecimento é majoritariamente relativo na medida em que os objetos ou grupos de objetos devam ser contrapostos para serem conhecidos tanto pelo que possuem em comum quanto pelo que possuem de característico ou propriamente seu. Então para conhecermos os elementos particulares ou distintivos devemos comparar e opor.

O que repudiamos no entanto é que sejam relativos a percepção, ao desejo, a vontade, a imaginação, a fantasia ou ao poder de cada individuo. Exceto quanto a certas formas de vida e a liberdade humana; a existência dos demais seres deve-se a processos de natureza física, química ou biológica irredutíveis ao querer deste ou daquele individuo; e assim a construção do saber na medida em que supõe certos elementos comuns: o aparelho sensorial e a estrutura ou esquema reflexivo de natureza lógica.

Queremos dizer com isto que nosso conhecimento a respeito dos seres cuja condição é relativa contínua sendo objetivo e verdadeiro uma vez que procede das relações que percebemos existir entre os diversos objetos. Poder distinguir o absoluto do relativo é já um modo de conhecer a natureza das coisas.



Respostas as objeções formuladas pelos céticos

D - Porque a percepção não é capaz de apreender o objeto por inteiro numa só vez e mesmo instante?

M - Porque os objetos apresentam qualidades distintas. Assim a natureza dispoz o organismo humano para concentrar-se cada uma delas (trabalho de especialização); associadas no entanto ou recompostas pelo intelecto elas apresentam o objeto em sua multipla integralidade ou totalidade.

Caso tomemos os animais uni ou monocelulares, percebemos que em alguns deles receptores de luz, odores e ondas sonoras encontram-se como que disseminados por todo 'corpo', predominando no entanto - caso tomemos por referência o grupo como um todo - o tato, igualmente difuso pelo corpo. Então podemos falar numa aesthesis mais ou menos difusa ou espalhada pelo ser em questão ou numa aesthesis genérica.

Naturalmente que esta capacidade é apta para facilitar a sobrevivência daquele individuo, espécie ou grupo mas não para conhecer o mundo em sua inteireza.

Aos poucos, no entanto, o processo evolutivo implementou o que denominamos especiação sensorial dispondo para cada qualidade externa apresentada pelos objetos um orgão sensorial receptor bem distinto dos demais e por assim dizer adequado. Segundo percebemos a presença de olhos, narizes e lingua; nos insetos, peixes, anfíbios, répteis, aves, etc

Grande número de cientistas admite, inclusive, que o grupo dos mamíferos possui os orgãos sensoriais mais evoluidos e melhor capacitados.

Do ponto de vista biológico podemos dizer que no campo da percepção sensorial o homem esta muito bem provido ou contemplado, caso desejemos compara-lo com os répteis, anfíbios, peixes ou moluscos. Mesmo em se admitindo que particularmente esta ou aquela espécie possua um orgão mais aguçado, o homem parece prevalecer do ponto de vista do conjunto.

Nenhum outro animal parece possuir um conjunto de órgãos ou aparelho sensorial, no mínino, medianamente satisfatório.

Eis porque a atuação conjunta dos sentidos, parece estar disposta para informar-nos validamente sobre certos aspectos do ser ou do objeto externo numa escala superior aos demais niveis de percepção com que nos deparamos no restante do mundo natural. Certamente não podemos suster que os sentidos nos revelem num só golpe absolutamente tudo a respeito do objeto, esgotando-o por assim dizer (de modo que nada reste para ser aprofundado por eles). Por outro lado não julgo que não tenhamos razão suficiente para por em dúvida aquilo que é captado ou percebido.


D - "Os objetos encontram-se em estado de perpétua mudança na cor, temperatura, tamanho e movimento." o que é exposto por Sexto da seguinte maneira: "Assim a azeitona sendo verde quando nova torna-se escura quando madura e as próprias nuvens do céu mudam de cor conforme o evento ou revolução que prenunciam.". Agripa classifica este argumento como de RELAÇÃO.

M - Naturalmente que a partição do tempo sugere a partição dos eventos e sua decorrente sucessão.

Há séculos sabemos viver num universo dinâmico, isto é em movimento e não num universo estático ou fixo como supunham os adeptos da escola eleática e os povos bárbaros em geral.

Parece que o tempo deu razão a Heráclito... Este Heráclito sempre evocado como padrinho pelos relativistas e céticos de ontem e de hoje na medida em que negava toda e qualquer estabilidade postulando um devenir acelerado e absoluto: "Pantha rei" ou seja, tudo fluí, no perpétuo turbilhão do devenir... e sem que haja qualquer coisa de estável ou fixa.

E no entanto o tempo não lhe deu razão completa, a ponto de patentear sua teoria a respeito dum fluir absoluto.

O problema aqui não esta em admitir ou negar as sucessões e transformações mas sim em captar o ritmo das mesmas.

Na própria natureza há transformações que são bastante rápidas como a formação duma tempestade ou duma avalanche de neve; outras imprevistas até como terremotos e maremotos. E no entanto tais transformações não são contínuas ou mesmo cíclicas num sentido mais ou menos rápido, breve ou intenso.

Enquanto outras tantas comportam um ritmo ciclico bastante lento e para muito além da vida e geração do homem. De fato a natureza comporta grande número de eventos cíclicos, revoluções e ritmos a maioria dos quais no entanto não parecem corresponder a brevidade e a rapidez postuladas pelo 'obscuro' efesino.

Assim sendo mesmo nas transformações que alteram o Kosmos parece haver certa constância, ou certo período de repouso. Destarte podemos perceber muito bem a ponto de calcular e prever a fase ou o período de tempo porque passa determinado fenômeno e antever as transformações que se sucederão na fase seguinte porque tais mudanças não são aleatórias. E não sendo nem demasiado rápidas nem aleatórias podem ser captadas pelo aparelho sensorial e apreendidas pelo intelecto mesmo sob a condição de fases 'provisórias' o que, ademais, corresponde perfeitamente a realidade externa e objetiva de um Kosmos em movimento.

A percepção mesma dos movimentos, das fases, dos períodos, das transformações, etc parece opor-se tanto a idéia fixa a respeito dum universo fixo; quanto a ideia dum universo caótico e significa que ao menos alguma coisa somos capazes de perceber. A simples noção de movimento X repouso já supõe algum tipo de conhecimento válido e verdadeiro...

A idéia de que quando percebemos ou conhecemos uma coisa ela já se transformou noutra não passa dum espantalho bastante desengonçado. Do contrário ninguém beberia vinho cuidando ter já se transformado em vinagre... ou tomaria qualquer drink gelado, cuidando ter o gêlo evaporado num instante...

As transformações que envolvem a matéria  não parecem ser assim tão rápidas a ponto de impedirem que os sentidos captem certo estádio ou forma mais ou menos constante de ser ou existir.

Eis porque os fenômenos podem ser relacionados em termos de causa e efeito e expressos sob a forma de 'leis'... Sempre que água atingir 100 graus ferverá. Exposta a temperatura de zero grau solidificar-se-a... e assim por diante. A simples ideia de que tais relações ou leis jamais conhecem mudança ou alteração implica a existência de certa estabilidade ou imutabilidade no universo... ficando a sucessão, ao menos em parte estocástica, dos fenômenos; como que inserida na estrutura imutável das relações ou da lei natural.

Aqui Antonio Sérgio: "Segundo disse o velho Heráclito 'É impossível o mesmo homem mergulhar duas vezes no mesmo rio, pois nem ele é o mesmo nem o rio o é.' ... todavia no rio de hoje, cujas águas de fato não são as mesmas observo as mesmas leis hidráulicas que já havia observado antes; e no home que nele mergulhas as mesmas leis psicológicas. ASSIM AS RELAÇÕES SÃO ESTÁVEIS. Prestai atenção neste ponto que vos leva longe; e neste outro: QUANDO SUSTENTO QUE TUDO FLUI, SUSTENTO A EXISTÊNCIA DE ALGO QUE JAMAIS FLUI, A SABER; O ATO DE JUÍZO PELO QUAL AFIRMO 'TUDO FLUI'. DO CONTRÁRIO, SE ESTE JUÍZO FLUÍSSE TAMBÉM COMO SERIA VERDADE QUE TUDO FLUI?" in 'Ensaios' VIII, 244 sgs

Assim "A lei é o que há de fixo e imutável na fluência ou no perpétuo devenir dos fenômenos." completa Vasco de Magalhães Vilhena in 'Pequeno manual de Filosofia" p 519

O mesmo se dá com a acepção vulgar da 'Teoria da relatividade' de Einstein... caso ela implicasse relativismo de cárater subjetivo. Pois a própria teoria seria relativa a subjetividade daquele que a formulou, perdendo assim todo seu valor objetivo... Destarte o simples de Einstein ter formulado sua 'teoria' pertinente a relação tempo e espaço e afirmado sua validade ou existência no plano real, evidencia que o grande físico e gênio do passado século não partilhava do relativismo epistemológico ora predominante.



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Respostas as objeções formuladas pelos céticos - Os 'tropói' de Aenesidemus...

D - Segundo Aenesidemus em nome de Pirro, "A realidade varia segundo as relações locais.". Esta proposição é assim exposta por Sexto: "A mesma torre parece ser retangular a curta distância e arredondada de longe. A lua parece ser liza quando contemplada a distância, no entanto, caso observe-mo-la com mais atenção e cuidado, percebemos que é repleta de crateras."

Descartes: "Tudo quanto até hoje aprendi e tive como seguro e certo; foi dos sentidos que eu aprendi ou por intermédio deles; assim percebi diversas vezes que os sentidos nos enganavam; e aconselha-nos a prudência que jamais nos fiemos inteiramente naqueles que uma vez apenas nos iludiram... Assim torres que de longe se me afiguravam como redondas vistas de perto eram de fato quadradas e colossos colocados sobre os mais altos cimos me pareciam minúsculas estatuetas  quando vistas cá de baixo; e fui assim depreendendo, numa infinidade de casos, a falsidade dos juízos que se fundavam no testemunho exterior dos sentidos..." in 'Meditações sobre a Filosofia primeira' 

M - Trata-se aqui dum argumento já classicamente explorado pelos céticos - com relação a vara posta num balde com água e quanto ao aparente movimento de rotação da terra em torno do sol - e encarado como uma espécie de carta ou trunfo escondido debaixo da manga...

Na boca ou na pena do cético porém, sabe esta argumentação um travo de hipocrisia. Digamos que ao argumentar desta forma o cético forja um 'sofisma' ou que argumenta de forma capiciosa tendo em vista escamotear a realidade e ludibriar aqueles que lhe dão trela.

Pois toda operação consiste em opor uma 'aparência' observada a partir de determinada distância, a uma 'realidade' percebida a partir duma distância menor e portanto com maior nitidez...

Todavia com o objetivo de refutar-nos entra o adversário numa arapuca e refuta-se a sí mesmo opondo uma 'aparência de realidade' vista ou percebida de longe a uma 'realidade' captada em condições adequadas.

Oposição que do ponto de vista do ceticismo jamais deveria existir uma vez que tudo, absolutamente tudo não passa de aparência. Sendo assim não há como separar a aparência da realidade; sem admitir a existência de um conhecimento real e consistente que se oponha a aparência. Aqui separação e/ou oposição entre o percebido e o sabido só seriam válidos do ponto de vista dogmático...

Pois sabendo que nossas sensações em certas circunstâncias não são reais, teríamos de admitir, forçosamente, que nosso saber é real.

Afinal se somos capazes de superar as limitações, dos sentidos,  do tempo e do espaço por meio do esforço e de atingir a verdade corrigindo as impressões o ceticismo incorre em falsidade patente.

Feita a ressalva acima admitiremos que por vezes, em determinadas circunstâncias, a percepção/sensação não corresponde perfeitamente a realidade ou ao objeto. Advertindo no entanto que não se trata duma regra geral e sim, como diríamos, de exceções feitas a regra ou de situações bastante raras.

E rebatemos argumento de duas maneiras:


  1. Do fato segundo o qual por vezes nossos sentidos incorrem em erro não podemos generalizar e suster que estejam sempre e invencivelmente equivocados.
          Assim Descartes: "Mas talvez se suceda que, não obstante os sentidos nos enganarem diversas vezes no que toca especialmente aos objetos que se encontram a uma maior distância, coisas haja, a respeito das quais, sem embargo, que não seja lá muito razoável duvidar, se bem que as conheçamos por meio dos sentidos. Por exemplo: que eu estou aqui, sentado à lareira, com meu roupão, tendo entre as mãos esta folha de papel, e de coisas parecidas. E como poderia contestar que estas mãos e este corpo sejam propriamente meus sem associar-me a certos loucos, os quais por terem as mentes tão perturbadas asseguram que são reis quando não passam de mendigos; que se acham cobertos de seda e púrpura quando estão nus; o que imaginam serem cântaros, ou mesmo que jurem serem feitos de vidro??? Assim tão doido seria eu caso procedesse segundo o exemplo deles." Id

  1. O simples fato de podermos saber que por vezes nossos sentidos incorram em erro, implica admitir que tais erros possam ser captados e corrigidos. Ficando demonstrado que a ignorância humana não é invencível.

D - "Os objetos são conhecidos apenas de modo indireto ou seja por meio do ar e da umidade." Tropói 6. Aqui Sexto: "Nós deduzimos que objeto algum se nos parece totalmente por si só, mas junto com qualquer outra coisa. Talvez seja possível dizer que a mistura formada pelo objeto externo e o veículo perceptor impede que possamos perceber o objeto externo como é por si só."

M - Neste tropo temos diante de nós um dos temas ou assuntos mais discutidos desde a antiguidade clássica até as Idades Média ou moderna, o tema da percepção.

Durante quase vinte e cinco séculos perguntaram-se os pensadores, sábios, filósofos e mistagogos sobre como nosso aparelho sensorial agia sobre os objetos percebidos ou vice versa, tendo sido propostas uma aluvião de teorias... Dentre aqueles que abordaram o tema ocorre-nos - de passagem - Parmênides, Melisso, Heráclito, Demócrito, Platão, Antistenes, Aristóteles, Epicuro, Zenon, Crísipo, Apuléio, Empíreo, Iamblico, etc dentre os antigos e Agostinho, Filipon, Aquino, Scotus, Descartes, Bacon, Hobbes, Locke, Hume, Kant, Wundt, Husserl, Avenarius, Mach, Lênin, etc

Dentre as citadas teorias uma das que granjeou adeptos no passado foi a do 'espectro' ou fantasma, segundo a qual todos os seres eram capazes de emitir uma espécie de duplo em contato com o ar, o calor, o frio e a umidade. Neste caso a coisa percebida não passava dum híbrido composto por elementos próprios associados a elementos externos fornecidos segundo a disposição do clima e da temperatura.

Naturalmente que esta teoria dispõe ao relativismo e ao ceticismo. Eis porque foi invertida ou introjetada por Aquino, o qual encarava o 'fantasma' como elemento 'a posteriori' elaborado pela reflexão tomando como ponto de partida os sensivéis próprios - cor, som, odor e gosto - e os sensiveis comuns: linhas, forma, tamanho, número e movimento.

Outros tantos, caindo no extremo oposto, encaravam a percepção como uma espécie de cárater divino, mágico ou imaterial. Deus nos faria perceber as coisas, no dizer de Berckley, inexistentes em si mesmas...

Quanto a teoria acima ventilada por Sexto naturalmente que cheira a kantismo na medida em que sustem uma possível mistura entre a sensação causada pelo objeto externo e algum elemento específico ou apriorístico portado por nós, no caso o tempo e o espaço. Ficando por intromissão das categorias sintéticas a priori de sensibilidade o noumeno ou coisa em si, convertido noutra coisa, numa mistura ou numa coisa híbrida: o fenômeno ou a coisa dada... poderíamos mencionar ainda o 'substrato incognoscível' que segundo Locke corresponderia a essência das realidades por nós percebidas (de modo que as realidades percebidas não passariam de simples involucro ou casulo)...

Hoje no entanto, após séculos de investigação, sabemos já que ambas as teorias ou suposições são inconsistentes. Nem existe qualquer espectro intermediário entre o objeto sensivel e o aparelho sensorial; nem é a sensação um capacidade imaterial, sobrenatural ou mística, nem existe qualquer 'espírito' ou alma por trás dos objetos materiais.

A luz do materialismo como queiram uns ou do realismo como queiram outros, podemos definir as formas percebidas como excitações externas produzidas no aparelho sensorial do sujeito por certas qualidades ou elementos materiais presentes no objeto ou na coisa percebida.

Destarte a cor não passa duma emanação de partículas materiais constituivas do próprio objeto em questão e nele presentes que de algum modo atinge todo sujeito percipiente esteja a seu alcance. Eis porque só podemos perceber ou observar as cores a uma certa distância, a partir da qual nada mais podemos 'ver', na medida em que o olho já não pode ser atingido pelas emanações coloridas emitidas pelo objeto; assim, não havendo excitação, não há sensação ou percepção de cor devido a distância excessiva.

Caso examinemos o segundo sensível próprio, que é o som, damos com o mesmo fenômeno material. Eis porque falamos em ondas sonoras que se propagam 'na matéria' e que sendo assim são puramente materiais.

Pois bem são tais ondas materiais que excitam nosso aparelho auditivo... não simulamos, inventamos ou imaginamos o som; capta-mo-lo i é percebe-mo-lo sob a forma de ondas sonoras cuja velocidade é mensurável.

Assim os odores enquanto emanações vaporosas emitidas pelos corpos a partir de elementos que neles se encontram. Emanações materiais - inda que difusas - apropriadas para excitar um orgão material como o olfato... assim o que captamos são atômos, moléculas ou substâncias materiais transportadas pelo ar; mas expelidas pelo objeto.

Quanto a visão, a audição e mesmo a olfação; convém que sejamos bastante explícitos justamente por se tratarem de sentidos que agem indiretamente sobre o objeto, supondo um elemento de separação existente entre ambos como seja o espaço e seus elementos constituintes. Porque nem os olhos, nem os ouvidos, nem as narinas precisam tocar os objetos para serem informadas por eles.

Aqui pois interfere o elemento distância, daí compreendermos as cores, ondas e odores como espécies de emanações sutis ou difusas que atingem o percipiente apenas até certo ponto para além do qual, diluem-se no ar e tornam-se 'obscuras'... De fato elas vão se tornando cada vez mais fracas até ficarem totalmente fora do alcance de nosso aparelho sensorial... e em tais condições tornam-se pouco distintas ou imprecisas, até que o aparelho cognitivo não possa mais interpreta-las corretamente sem da-las por outra coisa e incorrer em erro. Não é que os elementos materiais associem-se a outros elementos e se convertam noutra coisa... os elementos materiais tornando-se dispersos e frágeis perdem sua especificidade e exatidão, assumindo um cárater demasiado vago para ser compreendido pelo intelecto.

De modo que o intelecto, ao elaborar juízo, erra.

A propósito tanto Aquino quanto Aristóteles cogitam que os elementos: cor, o som e odor dependem da proximidade. E que o afastamento pode introduzir a confusão e o erro.

Nestes casos, qualquer defeito deverá ser corrigido pelos dois sentidos que agem diretamente sobre o objeto entrando em contato imediato com a matéria de que é feito. Referi-mo-nos obviamente ao paladar e ao tato.

Pelo paladar tanto podemos atingir parte do objeto e perceber a parte em conexão com o todo (como quando lambemos um imenso pedaço de rocha ou de gêlo, ou ainda o tronco duma árvore) ou receber a parte do objeto separadamente, como quando degustamos algum alimento; digamos uma coxa de frango ou uma posta de peixe. Seja como for aqui o contato é direto ou sem interferência de qualquer elemento qual seja o espaço...

Donde se infere que a coisa é diretamente percebida; sem que haja distância, separação ou interposição de qualquer outra coisa. Tal o caso do tato pelo qual 'pegamos' ou 'palpamos' os próprios objetos...

Daí o testemunho do paladar e do tato complementarem os da visão, da audição e da olfação e os sensiveis comuns corrigirem e complementarem os sensíveis próprios.

Aqui temos dois tipos de contato material: um que é direito e imediatamente material como no caso do toque e outro que é indireto e apemas mediatamente material como no caso dos olhos, do ouvido e das narinas atingidos por emanações materiais que atravessam a distância e que tendem por isso mesmo a diluirem-se no espaço. Neste caso a melhor garantia de autenticidade é a proximidade.

Então nós levamos em conta a limitação da distância, todavia não como algo insolúvel. Em havendo contato direto ou contato indireto, mas próximo; fica cortada pela 'navalha de Ockam' a teoria especulativa do fantasma ou do híbrido formado pelo objeto e a suposta associação com os elementos externos do clima. E solapados os fundamentos do relativismo.

Por outro lado já dissemos que o testemunho da percepção individual deve ser corrigido pelo testemunho da percepção social, grupal ou comum.

Partindo do fato segundo o qual os mesmos objetos produzem as mesmas excitações/sensações na imensa maioria das pessoas postas sob condições 'normais', deduzimos que as emanações provenientes dos objetos façam parte da natureza deles enquanto qualidades próprias. Convém pois dar razão a Aquino quando declara: "A vista vê, com efeito, a cor do fruto sem o odor; se perguntamos onde está a cor que é vista sem seu odor, é claro que tal cor só poderia estar no fruto" (S. Th. Ia Pa, q. 85, a. 2, ad. 2). acrescentando que o odor encontra-se no fruto. As qualidades encontram-se ambas juntas no objeto; os sentidos é que, por especiação, concentram-se apenas numa delas...

Nós no entanto nos tornamos aptos em associar as diversas sensações particulares; eis porque tocando e cheirando uma cebola podemos dum abacaxi e provando uma banana podemos distingui-la duma maçã...

D - "Porque não admites que o desaparecimento da sensação ímplica o desaparecimento do objeto?" Protagoras

M - Correspondendo a sensação um efeito produzido por um objeto que é sua causa, segundo o sofista grego só resta concluir que o desaparecimento do efeito - que é a sensação - implica no desaparecimento da causa, que é o objeto.

Destarte quando deixo de perceber meu cão para perceber qualquer outra coisa que não seja ele, deveria crer que ele deixou de existir...

E no entanto efeitos há na natureza que subsistem por muito tempo após o desaparecimento da causa responsável por sua produção; na medida em que prolongam-se por assim dizer. Desapareceu meu pai - que é minha causa - já há dez anos, enquanto que eu permaneço aqui escrevendo e laborando contra os adversários da Filosofia perene.

Por outro lado meu avô materno sobreviveu por décadas após a morte de seu primogênito; enquanto causa que subsistiu a eliminação do efeito...

A relação só existe genericamente e do ponto de vida estrito da causação: Em desaparecendo uma causa qualquer cessa de produzir efeitos... isto não quer dizer, no entanto, que os efeitos por ela produzidos não possam prolongar-se na ordem do tempo.

Por outro lado também é perfeitamente possível que as causas subsistam mesmo após a cessação ou desaparecimento dos efeitos produzidos. Uma laranjeira deita sua primeira carga de frutos que sãos seus efeitos... deveriamos concluir que a laranjeira desapareça após o derradeiro fruto desta carga deixar de existir???

Percebo meu cão enquanto concentro minha atenção nele... mas, como agente livre, posso concentrar minhas atenções sobre o gato do vizinho passando a ser atingido por excitações externas provenientes dele... Neste momento deixo de perceber meu cão sem que ele no entanto deixe de existir.

Isto tem uma explicação bastante simples: minha sensação ou percepção não comunica existência aos seres que percebo e tampouco determina a realidade externa a mim, limitando-se a ser excitada por ela.

Todavia o movimento presente nesta mesma realidade considerada afasta-me dum determinado objeto e aproxima-me de outro.

Que se sucede então?

Simples: meus sentidos, em função da separação e da distância deixam de ser excitados pelo primeiro objeto passando a ser excitados pelo segundo ou por um terceiro; por uma questão de pura e simples proximidade...

Disto não resulta que a cozinha ou a praça deixem de existir em si mesmas; elas apenas saem de foco ou deixam de existir para mim, para meus sentidos, para minha percepção - que alias é limitada - De modo absoluto continuam a existir, apenas de modo relacional e impróprio, para o sujeito percipiente, deixam de existir, enquanto se lhe ocultam.

Não são as coisas ou objetos que dependem de meus sentidos ou de minha acurada percepção para existirem; aparelho sensorial é que delas depende para perceber e conhecer.

Não 'crio' ou 'determino' aquilo que existe, limito-me a perceber e a conhecer...

Eis porque infinitos quintilhões de sóis, planetas, asteróides, etc subsistem em si mesmos girando pelos espaços sem necessidade de serem percebidos por mim ou pela espécie humana. As entidades ou seres materiais e sensiveis que compõem este universo são carecem de nosso 'placet' para serem aquilo que de fato são. Nós é que precisamos ou dependemos de nossos sentidos para conhece-los...

Em contrapartida não posso perceber meu pai ou a laranjeira que até o passado mês florescia e frutificava na casa da esquina... pelo simples fato de que meu pai é falecido e de que a pobre laranjeira foi cortada. Aqui o desaparecimento do objeto implica o desaparecimento duma sensação que ele não mais é capaz de produzir...

Concluindo: a existência real dos objetos condiciona a possibilidade da sensação sem que no entanto o desaparecimento da sensação implique a destruição do objeto. Ele apenas deixa de ser captado ou percebido mas não de ser.

"A sensação não se radica em si mesma; além dela há outra coisa que certamente a precede."  (Aristoteles > Metaph V & De anima III) e que precedendo-a também pode subsistir e permanecer após ter sido percebida.