segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Respostas as objeções formuladas pelos céticos

D - "Nossas percepções são relativas atuando umas sobre as outras." Tropói 08 Sexto no entanto, assim se expressa: "As diferenças só existem por oposição as demais coisas que existem; donde as coisas diferem com relação a outras coisas? Se diferem são todas relativas a algo... então tudo quanto existe é absolutamente relativo."


M - Grosso modo a faculdade da aesthesis é 'una'.

Todavia o processo de especiação dispoz certos orgãos para certos tipos de qualidades.

Assim a aesthesis tornou-se múltipla na medida em que concentrou-se em determinados orgãos distintos uns dos outros.

Daí as sensações próprias da cor, do som, do odor e do gosto.

Como cada uma percebe um tipo de qualidade diferente não vemos como possam atuar uma sobre a outra indistintamente ou em termos duma intervenção imediata.

Uma impressão jamais atua diretamente sobre outro órgão sensorial produzindo outra impressão; no caso falsa.

Uma impressão no entanto, atuando sobre a imaginação dum percipiente sensível, determina que a imaginação forje impressões ou sensações inexistentes. A imaginação também é capaz de fazer com que a vontade se antecipe a uma percepção dúbia, interpretando-a erroneamente; o que por sinal é bem mais comum.

Daí a necessidade do cientista e do filósofo - como já foi dito anteriormente - educarem a imaginação. Pois é ela, que acreditando estar diante daquilo que deseja, atua diretamente sobre os demais órgãos sensoriais, ora interpretando equivocadamente as impressões mal percebidas, ora produzindo determinadas sensações no caso ilusórias e inexistentes; e conduzindo quase sempre ao erro.

Aqui entraria justamente a virtude da prudência, a qual determinaria uma investigação mais completa a respeito do objeto em questão por meio das demais formas de sensibilidade.

Eis porque julgamos as percepções enriqueçam ou completem umas as outras acrescentando dados a respeito do objeto e tornando-o mais nítido. E que o testemunho dos sentidos deva sempre que possível ser recebido em conjunto...

Segundo nossa opinião cada um deles atua em sua área para que comparando os dados obtidos tenhamos uma visão mais abrangente ou total da coisa.

Quanto a argumentação de Sexto nós jamais negamos que as diferenças ou peculiaridades que caracterizam os diversos tipos de existir, sejam fruto de oposição relativa a outros tantos tipos ou formas de existência. E que sejam inferidas por via de comparação.

Nós bem sabemos que neste sentido os seres são todos relativos uns aos outros. E que nosso conhecimento é majoritariamente relativo na medida em que os objetos ou grupos de objetos devam ser contrapostos para serem conhecidos tanto pelo que possuem em comum quanto pelo que possuem de característico ou propriamente seu. Então para conhecermos os elementos particulares ou distintivos devemos comparar e opor.

O que repudiamos no entanto é que sejam relativos a percepção, ao desejo, a vontade, a imaginação, a fantasia ou ao poder de cada individuo. Exceto quanto a certas formas de vida e a liberdade humana; a existência dos demais seres deve-se a processos de natureza física, química ou biológica irredutíveis ao querer deste ou daquele individuo; e assim a construção do saber na medida em que supõe certos elementos comuns: o aparelho sensorial e a estrutura ou esquema reflexivo de natureza lógica.

Queremos dizer com isto que nosso conhecimento a respeito dos seres cuja condição é relativa contínua sendo objetivo e verdadeiro uma vez que procede das relações que percebemos existir entre os diversos objetos. Poder distinguir o absoluto do relativo é já um modo de conhecer a natureza das coisas.



Nenhum comentário:

Postar um comentário