domingo, 14 de julho de 2013

Respostas as objeções formuladas pelos céticos - Agripa: Da regressão ao infinito

D - Segundo Agripa 'A necessidade de se demonstrar cada coisa faria com que a busca pelo primeiro princípio ou pelo começo fosse sucessivamente recuada 'Ad infinitum'. Uma após outra as demonstrações se sucederiam, jamais acabariam, nunca teriam fim... e algum elemento ficaria sempre por ser demonstrado. Tal o princípio denominado REGRESSÃO ao infinito; uma demonstração sempre esta firmada sobre outra que precede-a e que por isso mesmo carece ser demonstrada.'

M - O defeito fundamental desta objeção consiste em afirmar gratuitamente que tudo é demonstrável, e que nada haja de seguro e certo que exclua a necessidade da demonstração. 

Eis porque a Filosofia perene parte do que chamamos indemonstrável ou axiomático.

D - Ignoro supinamente que seja axiomático.

M - Axiomático é um princípio captado com evidência imediata ou evidente por si mesmo e a respeito do qual não precisamos fazer qualquer tipo de demonstração.

D - Da-me algum exemplo.

M - Não precisamos demonstrar nossa existência para nós mesmos, pois enquanto seres auto conscientes experimentamos o ato de existir e sabemos com absoluta certeza que existimos.

Da mesma forma e maneira sabemos que existem objetos ou melhor formas exteriores a nós e face as quais nos posicionamos assumindo relações. Este simples fato de nos distinguirmos das coisas evidencia a existência delas.

Sabemos por fim que a existência ou ao ser, partilhado por nós e pelo mundo externo com que dialogamos opõem-se ao não ser ou a inexistência; aqui o germe do 'princípio de contradição'.

Alguns expositores acrescentariam ainda o juízo segundo o qual 'A parte é menor que o todo e o todo maior que a parte.'

Parece que cada um dos princípios ou noções acima elencados pode ser captado em sua totalidade e inteireza ou de um só golpe pelo intelecto.

E que não carecem de qualquer tipo de demonstração, pois há um critério de evidência que não precisa ser justificado ou corroborado por outros; pois justifica-se por si mesmo face a consciência.

D - Poderíamos dizer que estamos diante dos mais remotos fundamentos do saber?

M - Sem sombra de dúvida pois é a partir deles que principiamos as demonstrações.

D - O que excluí a regressão ao infinito?

M - Sim, pois como vimos os primeiros princípios apresentam-se ao intelecto evidência imediata, o que excluí qualquer necessidade de demonstrações. A certeza aqui é intuitiva e manifesta.

D - E quanto ao 'Dialelo' ou círculo vicioso (ARGUMENTO DA CIRCULARIDADE) que supõe a admissão daquilo que é preciso demonstrar; uma vez que demonstrar algo implica admitir a capacidade da demonstração ou a sua validade? Agripa

M - Num primeiro momento salta a vista que o 'dialelo' corresponde a um argumento.

O qual apresentando-se como válido para impugnar o dogmatismo, sanciona o viez demonstrativo da argumentação em geral, que é seu cárater racional.

Suponhamos que intuitivamente ou partindo dos primeiros princípios indemonstráveis eu afirme e sustente que ao menos 'alguma coisa' é possível saber com certeza segura e certa.

Qual seria a reação do cético diante disto?

D - Penso que ao menos instintivamente ele opusesse algum tipo de argumento ou objeção.

M - E aqui estaria a morte da coerência, pois emitir objeções ou argumentar implica sempre admitir que alguma coisa é conhecida de modo a servir de fundamento a argumentação. Logo ao argumentar sobre o ceticismo nosso adversário entra uma arapuca... Pois a negação completa de todo conhecimento é dogma que se destrói a si mesmo ou forma de suicídio intelectual.

Independentemente de seu valor, uma vez que o 'dialelo' é um tipo de argumento, supõe certa capacidade intelectual ou racional e volta-se contra o próprio ceticismo em termos absolutos.

D - Mas quanto ao valor do 'dialelo' em si mesmo?

M - O 'dialelo' peca por supor ou suster que a capacidade do intelecto para atingir a verdade seja objeto de demonstração pelo qual demonstraríamos a demonstrabilidade...

Donde se segue que intentando demonstrar a demonstrabilidade cairíamos numa 'petição de princípio' - pois a demonstração da aptidão suporia a mesma aptidão para demonstrar...

Acontece que a 'aptidão do intelecto para a verdade' pertence justamente aquele gênero de certezas acima designadas como axiomáticas e indemonstráveis.

Não precisamos recorrer a evidências mediatas/remotas ou a esquemas de lógica com o objetivo de demonstrar tal capacidade uma vez que no ato mesmo de elaborar qualquer tipo de juízo esta capacidade MOSTRA-SE A SI MESMA COM EVIDÊNCIA IMEDIATA ou intuitivamente.

Caso a consciência não soubesse com evidência imediata que é capaz de apreender a verdade jamais encetaria qualquer tipo de juízo, ou melhor, se soubesse que é incapaz de apreender qualquer coisa sequer seria capaz de promover qualquer tipo de predicação ou juízo sem fazer violência a si mesma. Pois saberia estar encetando um ato falho...

E no entanto o ato de julgar é tanto espontâneo quanto universal. Diante disto só nos resta admitir que a inteligência, ao implementar tais atos, reconhece a si mesma como apta para conhecer...

D - És capaz de fornecer-me algum exemplo tanto mais palpável?

M - É certo que não posso ouvir uma bela sinfonia caso não possuam antes aptidão para isto. No entanto não é necessário que esta minha aptidão seja conhecida antes do ato... POIS TAL APTIDÃO É CONHECIDA E VERIFICADA IMEDIATAMENTE, OU SEJA, NO PRÓPRIO ATO; pois da simples existência do ato em si podemos inferir a aptidão do agente para produzi-lo...

D - Explica-me agora como a inteligência seria capaz de conhecer sua própria capacidade cognitiva???

M - "A inteligência sendo dinâmica é perfeitamente capaz de voltar-se sobre seus próprios atos e operações, não apenas com o objetivo de conhece-los, mas para conhecer sua conformidade com a realidade externa a si; todavia como esta segunda conformidade não pode ser sabida, sem que saiba a natureza do princípio operante: isto é que a inteligência é apta para conformar-se com a realidade. Então para conhecer-se como válida para o objeto deve antes reconhecer-se como válida em si mesma." Aquino in De Veritate I,09

Em suma: todos juízo trás embutido em si mesmo um valor crítico, porque implica controle da inteligência sobre seus atos para ver se afirmando afirma o que é ou se negando nega o que não é; quando a inteligência toma consciência de estar captando algo que esteja presente no objeto ou de estar percebendo que este ou aquele atributo não se encontra nele ela se sente inclinada a afirmar ou negar com absoluta seguridade. E mesmo a vontade educada na escola do ceticismo sente-se dificultada ao querer impedir este ato, o ato do juízo. Ora o intelecto tende para o juízo porque vê a si mesmo, internamente (ou auto percebe-se), como apto ou capaz e vê-se a si mesmo porque não é estático.






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