sábado, 3 de agosto de 2013

Criteriologia - O sentimento ou da emoção como critério da verdade

M - A que conclusões chegamos na última discussão?

D - Na última discussão concluímos que embora o instinto, definido como reflexo ou tendência natural disposta pela estrutura orgânica do ser, seja útil e benéfico para o que foi disposto: a conservação e comunicação da vida, bem como o aprimoramento da espécie (por meio da sociabilidade e da curiosidade por exemplo); nem por isto pode ser encarado ou considerado como último critério da Verdade já porque não esta posto para a totalidade dos fenômenos que nos cercam, já porque não tem em vista o conhecimento integral de cada fenômeno.

Bom é o instinto para ser empregado em diversas circunstâncias; não no entanto para franquear acesso a todas as categorias de verdades como a metafísica, a ética, a estética, a Histórica ou mesmo a biológica.

M - Uma vez que não podemos contar com os instintos para ter acesso as demais categorias da verdade, que transcendem a conservação e promoção da vida; a que outro critério haveríamos nós de recorrer???

D - Segundo a escola romântica o critério mais adequado, tendo em vista a aquisição da verdade seria o sentimento, compreendido por muitos como a emoção.

Somente aquilo que é capaz de despertar em nós sentimentos nobres, de nos emocionar ou comover deveria ser tido em conta de real ou verdadeiro.

M - Aqui outra meia verdade.

D - Por que meia verdade?

M - Quem de nós haveria de fazer pouco caso dos sentimentos humanos?

Emocionar-se ou comover-se face a dor alheia é nota de alteridade ou empatia.

D - Então porque não podemos adotar os sentimentos como critério da verdade?

M - Primeiramente porque nem todos os seres humanos possuem a capacidade de sentir, a exemplo dos psicopatas.

Num segundo momento porque o sentir esta sempre na dependência de certos princípios e valores.

Assim tantos quantos admitem que os cães e gatos possuem uma alma ou ao menos uma certa capacidade intelectual tendem a comover-se face ao sofrimento experimentado por eles enquanto aqueles que recusam-se a encara-los como entidades dotadas de capacidade intelectual não tendem a experimentar qualquer tipo de sentimento.

Destarte os sentimentos e emoções são sempre relativos a certos princípios e valores transmitidos pela cultura. E neste sentido costumam ser determinados pela cultura... e a variar de cultura para cultura.

A própria alteridade a que nos referimos é uma construção progressiva que se dá na História...

E portanto uma noção que se dá e que se forma no tempo e no espaço.

E que esta voltada apenas para certo aspecto ou parcela da realidade, como seja a convivência humana ou as relações existentes entre os homens de demais seres vivos.

E nem se percebe porque modo ou maneira os elementos químicos ou os estados físicos da água possam dizer alguma coisa em termos de sentimentos humanos...

D - Percebo que os sentimentos e emoções não possuam estabilidade suficiente para funcionarem como critérios determinativos da verdade.

M - Além disto os sentimentos e emoções não possuem acuidade.

D - ???

M - Refiro-me a capacidade para distinguir uma coisa da outra considerando as causas ou fundamentos.

D - Por exemplo.

M - Qualquer um de nós poderia comover-se diante duma situação de injustiça artificial, forjada ou encenada ou mesmo de cultivar sentimentos hostis para com uma vítima que as aparências fizessem parecer culpada.

Quantos de nós não se comovem até as lágrimas diante dum romance como os de Jane Austen  ou Charlotte Bronté e são incapazes de demonstrar qualquer tipo de sentimento face aos detentos massacrados no Carandiru ou dos moradores de rua assassinados em Goiânia??? Quantos não se comovem ante a encenação das obras de Ésquilo, Sófocles ou Eurípedes enquanto assistem impassíveis o massacre de cívis por parte das tropas Norte Americanas no Iraque???

D - Qual a razão disto?

M - A razão é que os sentimentos são, a um tempo,  incapazes de discernir entre uma situação de sofrimentos ou de dor real ou fictícia, e a outro, de averiguar as causas mais remotas... destarte o homem deixa\de ser incomodado ou tocado por uma realidade que é por assim dizer disfarçada ou ocultada para debulhar-se em lágrimas e clamores diante de cenas ou representações que nada possuem de reais.

Para o sentimento é sempre problemático ultrapassar as aparências e assumir uma postura tanto mais crítica.

Podemos acrescentar ainda que o romantismo afasta as massas da realidade cruel face a que deveriam indignar-se na mesma medida em que produz situações artificiais e fictícias destinada a provocar um derramamento inútíl de lágrimas... Destarte o mesmo sujeito que é impactado pela ficção permanece insensível diante da realidade nua e crua da vida vivida...

D - Neste caso que conclusões deveríamos tirar a respeito dos sentimentos e emoções?

M - Enquanto fenômenos que facilitam e enriquecem a convivência humana, sentimentos e emoções são instrumentais preciosos ou melhor indispensáveis. Todavia no que diz respeito a estrutura íntima das coisas e da realidade podemos dizer que são impermeáveis a ação dos sentimentos, os quais permanecem sempre aquém delas... Para que não se percam na superficialidade do sentimentalismo beócio; os sentimentos devem até certo ponto ser balizados pelo intelecto...

Nada nos autoriza a supor que Fleming ou Sabin fossem indiferentes aos sofrimentos humanos dos feridos ou dos paralíticos... no entanto não foi o sentimento nobre cultivado por eles que capacitou-os a descobrir a Penicilina ou a Vacina contra a poliomielite; mesmo admitindo que os sentimentos possam ter servido com o móvel, incentivando-os, devemos considerar que os resultados foram frutos da experiência associada a reflexão.

Aqui podemos e devemos corroborar o veredito de Durkheim: “O sentimento é objeto da ciência, não é critério de verdade científica." diga-se o mesmo da Verdade Filosófica...

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