terça-feira, 13 de agosto de 2013

Criteriologia - O costume e a tradição como critérios da Verdade

D - Alguns tem tomado o costume e a tradição dos antigos por critério da verdade.

M - Em certo sentido o costume tende a padronizar certos tipos de 'relações' testadas, no sentido de que foram bem sucedidas. No entanto parece que ele não vai além das relações pessoais e sociais tocando a natureza do universo ao cárater do ser... por outro lado o costume mostra-se sempre ineficaz quando se trata de obter soluções para novos problemas, isentos de precedente histórico.

Outra característica a ser considerada é que os costumes variam de cultura para cultura na medida em que os grupos sociais são capazes de encontrar soluções diferenciadas para os mesmos problemas; sem que haja qualquer indagação a respeito de qual seja a melhor ou a mais eficaz.

Queremos dizer com isto que a esfera do costume é demasiado limitada além de ser acrítica e ingênua.

D - Em que sentido?

M - Ao membro de uma cultura primitiva qualquer jamais ocorre duvidar dos costumes prevalecentes. Ele jamais haverá de comparar as soluções propostas pelas diversas culturas para descobrir qual seja a melhor ou mais funcional... Levado pelo hábito ele tende a reproduzir mecanicamente aquilo que aprendeu com os ancestrais e a jamais inovar. Eis porque os chineses tendo inventado a pólvora, a bússola, a imprensa e a cédula; não foram capazes de tirar partido de cada uma destas descobertas; porque estavam inseridos numa sociedade absolutamente tradicional que nutria desconfiança por qualquer tipo significativo de alteração.
Acostumados a dinâmica social recebida por tradição os chineses sequer podiam conceber um tipo de sociedade diferente: tudo deveria ser como sempre havia sido.

Implica esta visão em imobilizar as estruturas sociais - mantendo religiosamente a herança legada pelos antigos - e em paralisar a História.

Teríamos aqui uma Sociedade estática em que qualquer tipo de progresso: teórico ou técnico seria encarado negativamente, como uma espécie de ameaça ou heresia.

Implica jamais obter a cura do câncer ou meios de transporte ainda mais ágeis...

D - Adotado o critério do costume ou da tradição teríamos uma sociedade por assim dizer 'mumificada'?

M - Em termos de essência ou de princípios éticos podemos postular criticamente a existência de certa estabilidade cujo valor transcenda as limitações do tempo e do espaço... a realização da essência e a aplicação dos princípios no entanto implicará sempre alguma alteração. Alteração que o padrão do costume sempre se negará a assumir... e que a tradição sempre tenderá a classificar negativamente.

Não se trata aqui de negar ou de repudiar tudo quanto nos tenha sido legado ou transmitido pelos antigos pelo simples fato de que tais conhecimentos tenham sido sucessiva e criticamente testados ou atravessado incólumes o questionamento exercido por diversas gerações...

Na medida em que - após Pitágoras/Tales e mais pronunciadamente, após Aristóteles - parte dos homens passa a exercer crítica face aos fenômenos e que esta crítica assume um aspecto social na medida em que passa a ser exercida por sucessivas gerações de pensadores ou pesquisadores forçoso é concluir que os conhecimentos que resistem a esta crítica contínua e cerrada adquirem credenciais ou garantias de confiabilidade.

Destarte podemos afirmar a existência duma tradição crítica ou dum habito crítico que prolongando-se de geração em geração reforça o sentido da veracidade. Estamos no entanto diante duma aplicação sucessiva e contínua do critério e não do critério em si.

O critério pode e deve subsistir por meio da tradição; no caso duma tradição gnoseológica ou científica - por isso mesmo crítica - enquanto hábito exercido; a tradição no entanto (enquanto 'modo' pelo qual o critério é exercido) jamais corresponderá ao critério em si.

D - Continuemos pois a procurar o critério...

M - Forcejemos por encontra-lo e o encontraremos.

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