sábado, 3 de agosto de 2013

Criteriologia - O instinto como critério ou padrão da verdade (Nietzsche)




D - Admitindo-se que existam verdades universalmente válidas e verdadeiras, devemos forcejar para ver se descobrimos qual seja o critério ou o padrão que nos garante um acesso a elas.

M - Antes de apontarmos qual seja o critério mais seguro face a aquisição da Verdade, devemos saber que no correr dos tempos diversos tipos de critérios foram propostos por diferentes pensadores.

Convém portanto analisar detalhadamente cada um deles.

D - Neste caso qual seria o primeiro critério proposto?

M - O primeiro critério é o instinto.

Assim para Nietzsche a verdade não existe enquanto relação sujeito - objeto mas apenas e tão somente 'Enquanto conserva e propaga a vida.' . E o instinto que esta por trás de cada juízo... Aqui - e Nietzsche repete-o insistentemente - nada há de racional, impessoal ou objetivo. Estar consciente não se opõem de modo decisivo ao que é instintivo e, no mais das vezes, o pensamento consciente de um filósofo é secretamente guiado e plasmado pelo instinto.

D - Temo não saber exatamente que seja instinto, julgo no entanto que se trate dum comportamento 'inato', espontâneo e irracional; uma espécie de reflexo em termos fisiológicos.

M - De fato nem se pode negar quão vaga e de certo modo confusa seja a noção de sentido em que pesem as experiências de Lorenz, Seitz e Tinberger.

Durante séculos foi admitida a existência duma certa disposição natural e portanto inata, para que os diversos tipos de seres vivos agissem teleologicamente ou seja tendo em vista um determinado fim ou uma determinada meta, qual seja, por exemplo, a conservação da vida.

Assim podemos falar no instinto de conservação e no instinto de reprodução; o primeiro relacionado com a busca pelo alimento e temperatura adequados a manutenção do metabolismo e o segundo relacionado com a busca por um parceiro tendo em vista o acasalamento e a continuidade da espécie.

Tudo quanto era executado pelos animais tendo em vista a consecução de tais fins e excluída, premeditadamente, a simples possibilidade de cálculo; era creditado na 'conta' dos instintos.

E por assim dizer tinham eles costas largas e uma certa conotação mágica...

Destarte postularam alguns a existência de um instinto da guerra - Von Moltke - e outros uma espécie de instinto religioso; presentes na natureza humana...

Enquanto outros, tendo em vista os 'problemas' acima elencados; sustentam que o termo deveria ser posto de lado.

D - E substituído porque?

M - Por reflexo no que diz respeito a estruturas de comportamento, em tése, geneticamente herdadas (Pavlov, Skiner, Piaget, Chomsky, etc) pelos membros da espécie; as quais determinariam a direção a ser seguida mas não o conteúdo em si & por percepção ou experiência no que diz respeito aos conteúdos adquiridos.

D - No caso poderíamos, seguindo Henry James, definir a sociabilidade humana como uma espécie de instinto ou de reflexo de alguma maneira impresso ou gravado em nosso aparelho cerebral e consequentemente como uma tendência determinada por nossa condição?

M - A própria curiosidade é certamente um instinto comum a espécie e por assim dizer, o motor de nossa vida intelectual.

E podemos admitir e dar por certo que a supressão dos instintos ou reflexos - como a sociabilidade e a curiosidade - implicaria a extinção do gênero humano.

Apesar disto penso que não seria prudente adotar o 'instinto' ou o reflexo como padrão para todo tipo de verdade.

D - E por que?

M - Porque uma enorme gama de fenômenos externos escapa ao domínio ou a esfera de nossos instintos e tendências.

Assim se o instinto é bom para te fazer obter água em caso de necessidade é de todo inútil para te revelar ou para te dizer qualquer coisa a respeito da natureza da água

Eis porque faz parte da condição humana sobrepor o intelecto ao instinto ou submeter os reflexos e tendências procedentes da vitalidade a princípios e valores de natureza extrínseca e ideal aquilatados pela mente. Porque o instinto te leva apenas a fazer uso ou a empregar enquanto os sentidos e a mente te levam a saber ou conhecer...

É o instinto um usar enquanto o intelecto é um decifrar...

E o decifrar amplia as possibilidades do usar.

Porque o decifrar nos mostra ou revela a estrutura íntima do ser...

Somente assim podemos compreender o fenômeno do martírio.

Não nos referimos aqui apenas e tão somente a experiência porque passaram cerca de sete milhões de Cristãos, em sua maior parte Ortodoxos, nos primeiros séculos desta nossa Era; mas a toda e qualquer experiência em que homens como Sócrates ou Bukharin abriram mão da própria vida tendo em vista uma determinada crença, ideia ou padrão comportamental.

Aqui os reflexos ou instintos determinados pelo organismo tiveram de ceder a uma certa concepção de verdade pela qual bem valia a pena morrer.

Aqui a coerência arrostou não só a morte mas a própria dor e o sofrimento...

Eis porque diziam os antigos, os sábios como Zenão, Sócrates, Epicteto, etc haviam 'violado' e vencido a própria natureza; merecendo os aplausos de toda humanidade.

No entanto, caso os instintos devam ser encarados como critério supremo de toda verdade não poderíamos deixar de encarar Zenão, Sócrates, Rufo, Epicteto, Jesus, Vanini, Bruno, Bukharin, e tantos quantos preferiram a morte face a negação de suas convicções; como idiotas ou depravados.

Na medida em que ousaram resistir aos apelos do instinto.

Assim, se o instinto é de fato válido em sua esfera que é a conservação da vida; não deixam de existir princípios, valores, crenças e ideias superiores ao instinto e pelas quais não sendo possível viver bem lave a pela morrer ou deixar-se matar.






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