terça-feira, 3 de março de 2009

A verdade, o erro, o juízo e a percepção.








D - Que é a verdade?

M - A verdade é a relação de conformidade ou equivalência existente entre a coisa/objeto em si e o juízo por nós emitido a seu respeito.

Quando digo: "A bola é de borracha." o juízo dera verdadeiro caso a matéria 'borracha' esteja de fato presente na estrutura da bola. Do contrário, caso a matéria atribuída não se face presente na estrutura do objeto em questão, o juízo será falso.

D - Que é o juízo?

M - Todo juízo é uma predicação ou seja a atribuição ou a negação de um predicado ou duma qualidade ao objeto em questão.

Por exemplo: 'A banana é amarela.' ou 'A porta não é de madeira.'

D - Quantos tipos de juizo existem?

M - Dois apenas: o de afirmação e o de negação. Pelo primeiro atribuimos determinadas qualidades ao sujeito; pelo segundo negamos tal qualidade.

Quando dizemos: Esta parede é azul. emitimos um juizo afirmativo. Já quando dizemos: Este livro não é de papel, emitimos um juizo negativo.

D - Caso o atributo azul esteja presente na parede temos um juizo verdadeiro ou verdade; agora caso o atributo papel pertença ao livro em questão temos um juizo falso ou um erro.

M - Exato; nos juizos de afirmação a qualidade/atribuito deve estar presente no objeto para que sejam verdadeiros; já nos juizos de negação a qualidade/ou atributo não devem estar presentes no sujeito para que sejam verdadeiros.

D - Podemos dizer que todo erro comporta mentira?

M - Jamais devemos confundir o erro com a mentira.

D - Por que?

M - Porque enquanto aquele que era procede sempre inconscientemente, ignorando que erra e acreditando estar certo; aquele que mente sabe estar enganando ou comunicando uma informação que não corresponde a verdade. Assim o erro implica defeito de ordem cognitiva enquanto que a mentira implica defeito relativo a vontade ou seja de ordem ética ou moral.

D - Quantas categorias de juizo existem?

M - Três são as categorias de juizo. A primeira diz respeito a substância ou essencialidade do objeto ou do ser - grosso modo 'do que ele é feito' - e aos atributos (aqui acidentes) nele presentes.

Ex - 'A mesa é de madeira.' ou 'A mesa é quadrada' - 'A calça é de linho' ou 'O pure não é de batata'.

Estes juizos são chamados juizos de essência (de essencialidade) ou de estrutura (estruturais).

A segunda categoria diz respeito a apreciação da coisa/objeto pelo homem em termos de relação.

Ex - "Esta mesa é boa." ou "Esta calça é resistente" ou ainda "Esta água não é saudável."

Quer dizer: Boa, útil, agradável, desagradável, má, etc para o homem ou grande, pequeno, resistente, etc em comparação com outros seres. Aqui como já dissemos o critério é a relação e a relação é sempre externa a coisa.

Estes juizos são chamados juizos de valor ou juizos valorativos.

A terceira categoria diz respeito as impressões/sensações provocadas pela beleza ou pela feiura; são os juizos estéticos.

Há quem lance os juizos estéticos na categoria dos juizos de valor.

D - Quantos tipos de verdade existem?

M - Grosso modo existem apenas três tipos de verdade: A adequação do ser consigo mesmo ou com sua própria forma disposta pela mente suprema que é a verdade ontológica ou absoluta; a adequação entre a forma do objeto e a imagem gravada no aparelho cognoscente do sujeito, a que chamamos de verdade entrínseca ou lógica e a adequação das palavras ou gestos com a verdade lógica, que é a verdade extrinseca ou moral, pois o fim da comunicação é servir ao conhecimento da verdade.

Como já foi advertido quando há discrepância entre o objeto e a estrutura cognoscente do sujeito temos o erro, quase sempre involuntário como veremos mais a frente.

Já quando há discrepância entre o que é sabido e o que é expresso ou dito, temos a mentira, quase sempre voluntaria.

O erro é um defeito epistemologico as vezes bastante fácil de ser corrigido, especialmente quando temos diante de nós uma natureza sincera e honestamente voltada para o bem e a virtude.

Já a mentira é um defeito de ordem moral tanto mais díficil de se corrigir, demandando uma boa dose de vontade e de disciplina.

D - Sendo a verdade uma relação estabelecida entre dois termos, que se sucederia se faltasse um deles?

M- Faltando qualquer um deles não poderia haver aquisição da verdade pois o sujeito depende do objeto para poder conhecer, enquanto o objeto depende do sujeito para ser conhecido. Verdade portanto implica relação e toda relação implica pluralidade.

D - Que tipo de capacidade possibilita essa relação de termos?

M - Não se trata certamente duma capacidade física, pois não precisamos nos transformar em pedras ou árvores para conhece-las, mas duma capacidade sensorial que consiste em captar ou perceber as imagens do mundo externo e de armazena-las no intelecto; bem como duma capacidade mental ou racional que consiste em comparar os dados fornecidos pelos sentidos, em julga-los e em abstrair formulando ideias ou conceitos.

D - Como os objetos podem ser percebidos?

M - Os objetos podem, especialmente os mais simples, podem ser percebidos em sua integralidade ou inteireza, os mais complexos porém, podem ser percebidos apenas parcialmente ou seja no que tange a um aspecto ou categoria do existir. Não é necessário que o objeto seja inteiramente explorado e esgotado para que haja verdade. Conhece pois a verdade niveis e gradações como tudo que é humano. O sujeito pode ter apreendido e sabido um aspecto do ser e equivocar-se sobre os demais, conforme sua atenção e interesse incidem sobre o aspecto que mais lhe agrada ou favorece. Devemos sempre ter em mente que o interesse é determinado por necessidades pessoais ou subjetivas.

D - Não seria antes a verdade uma afinidade ou concordância do conhecimento consigo mesmo? (Aenesidemus)

M - Na natureza dos objetos conhecidos não vejo como isto possa dar-se uma vez que a maior parte deles é desprovido de sentidos ou de intelecto.

Quanto a natureza do sujeito cognoscente sabemos que jamais discrepa de si mesma, exceto em situações anormais como no caso da dupla personalidade, a qual por sinal, como já foi dito, não é concomitante.

Impossivel que algum individuo tenha o mesmo objeto posto sob o mesmo aspecto como simultaneamente verdadeiro e falso; mesmo quando implique em percepção defeituosa, pois mesmo quando errado o juizo será único e não duplo. A única excessão possível aqui é por defeito de vontade ou mania de contradizer.

Uma coisa é negar que o gordo seja gordo e que o magro seja magro ou ainda dar o gordo por magro e o magro por gordo; outra - aqui impossível - dar o sujeito por gordo e magro ou magro e gordo ao mesmo tempo atribuindo simultaneamente predicações que se anulam ou excluem.

Já nos sujeitos que se auto percebem e conhecem a concordância da percepção pessoal com a geral ou a equivalência dos juizos próprio e externo; constituem índice altamente provável de veracidade. A unidade absoluta ou total do que se percebe ou se julga não pode laborar em erro.


D - Não seria o homem a medida de todas as coisas? (Protagoras)

M- Caso os homens, como um todo, sem exceção i é o gênero humano, a espécie, exprimisse determinada percepção formulando-a em termos de juízo simples; julgo que esta medida seria válida, ao menos de modo geral. De fato creio ser impossível ou altamente improvável que todos os seres humanos estivessem enganados caso concentrassem suas atenções sobre um mesmo objeto.

'É possível que determinado homem seja enganado por algum tempo; mas impossível que todos os homens estejam invencivelmente enganados por todo tempo.'

Eis porque, segundo creio, semelhante acordo, hipotético e universal, seria determinante caso fosse possível, evidenciando que todos os elementos da espécie perceberam ou julgaram determinado objetivo do mesmo modo... Tanto mais digno de crédito seria o juízo em questão caso levassemos em consideração o isolamento em que ainda vivem certos povos e os preconceitos inerentes a casa cultura i é a variedade cultural.

Como veremos todavia, tal acordo - consenso ou assentimento universal dos povos - não é possivel, na prática e tampouco necessário.

Material e externamente falando, a unanimidade absoluta parece inexistir. Mesmo a idéia de Deus - sempre vindicada pela Escola do senso comum - parece ter perdido o apanágio de unanimidade exclusiva com que costumavam nimba-la os teóricos do passado, unanimidade que por sinal estava firmada mais sobre a autoridade e a coerção do que sobre a reflexão ponderada.

Existe sem embargo uma certa concordância geral e quase unanime sobre a qual mais adiante procuraremos assentar as bases de nossa reflexão. Mas adiantamos já que ela não se dá no fóro externo da materialidade, mas no fóro interno da consciência e no terreno dos conceitos puramente abstratos, como o axioma.

É de fato o elemento humano a medida das coisas exteriores a sí, enquanto predicador de juízo ou árbitro das mesmas.

DO CONTRÁRIO INCIDIRIAMOS NO ERRO DE SUPOR QUE OS OBJETOS ISENTOS DE RAZÃO E ENTENDIMENTO SÃO CAPAZES DE EXERCER JUIZO A RESPEITO DE SUA CONDIÇÃO. PRECIPITANDO-SE O OBJETIVISMO NO ABISMO DO ABSURDO!!!

Percebido e julgado pelo intelecto humano o Objeto/ coisa não pode ser ao mesmo tempo réu e juiz ou juiz e objeto de juizo.

D - Que papel cabe pois ao objeto se a medida é o gênero ou a espécie humana?

M - Cabe ao objeto enquanto coisa julgada a honrosa função de 'Critério' ou 'padrão' de veracidade. Pois se cabe ao homem exercer juízo frente ao objeto, cabe julga-lo a partir de sua natureza íntima ou condição, isto é, partindo dele, observando-o e procurando captar o que está ou perceber o que não está presente nele para chegar a verdade.

Destarte o homem mesmo sendo árbitro ou juiz não se converte em critério da verdade na medida em que deve reportar-se sempre a natureza ou estrutura do objeto em questão. E para tanto deve fazer uso não de sua imaginação, fantasia ou vontade, mas de sua percepção enquanto único veículo capaz de captar ou reproduzir a forma do objeto com seus atributos.

D - Muitos tem compreendido o discurso de Protágoras como dirigido ao homem isolado dos demais ou seja ao  individuo, no sentido de que cada individuo deva elaborar suas verdades com base em seus próprios critérios. Quanto a isto que devemos pensar?

M - Já Aenesidemus havia explorado a questão num de seus 'tropoi' asseverando que "Entre os individuos há diferenças no que diz respeito a percepção." (02). O que por ser correto é também óbvio.

De fato caso encaremos o termo 'homem' como individuo ou elemento isolado dos demais, cada qual com seus critérios e sua verdade, devemos concluir que existem tantas verdades quanto cabeças ou bilhões de verdades conflitantes. Conclusão: para além dos indivíduos não haveria qualquer verdade. Nada de universalmente válido ou certo...

Não há verdade externa ou objetiva ao menos em parte procedente dos objetos, mas apenas visões ou apreciações particulares, distintas e contraditórias enquanto portadoras de elementos apriorísticos ou seja de pressupostos ou preconceitos na melhor das hipóteses. Percebendo cada qual apenas o que lhe interessa ou apraz.

Neste caso concluiremos que o objeto ou a coisa em si (noumeno) permanece sempre intocável, inacessível e misterioso, a margem do processo, como que em estado de perpétuo isolamento; e enfim, que ele não pode ser apreendido por nossos sentidos e assimilado por nosso intelecto. O que de fato captamos é o fenômeno, i é, uma representação parcialmente feita por nós e portanto distorcida do objeto... Por isto tanto Górgias como Kant admitem apenas uma aproximação e não um 'contato' imediato... O ser em si jamais nos é dado e sua essência permanece sempre oculta.

Parece me todavia que o homem não seja capaz de construir suas percepções movido pela livre vontade; haja visto que trinta ou quarenta pessoas somaticamente normais, ou seja com o aparelho sensorial em perfeito estado e sob as mesmas condições - dentro duma sala bem iluminada pela luz natural do sol - tendem a captar ou perceber as mesmas cores e formas do mesmo modo. Sem prévia combinação e desde que não haja prévia combinação ou falseamento proposital...

Ora constituindo os individuos ou pesoas, unidades sensoriais autonomas ou independentes umas das outras - capazes de mensurar e avaliar a si mesmas inclusive - porque não captam percepções diferentes conforme seus gostos, vontades, sonhos, fantasias e inclinações? Porque captam as mesmas impressões caso o aparelho cognitivo esteja em perfeito estado e as condições de observação similares? Quem é que constrange-os a perceberem o verde e não o amarelo, o azul, o branco, o preto ou o rosa? Que força obriga-os captar esfericidade ao invés de triangularidade ou quadratura???

Consoante o clássico princípio juridico segundo o qual "TUDO QUANTO É GRATUITAMENTE AFIRMADO PODE SER GRATUITAMENTE NEGADO." afirmamos em oposição a Protágoras que o individuo isolado e separado do gênero humano não é nem pode ser a medida, o padrão ou o critério do conhecimento; mas que o critério do conhecimento é a coisa conhecida ou o objeto e que a medida ou arbítro é a comunidade, a espécie ou o gênero humano.

Afirmamos pois um padrão externo e objetivo do conhecimento, na esteira de Aristóteles, Aquino, Lênin, etc associado a uma percepção comunitária ou social das coisas.

D - Então porque tanta gente tem aderido entusiasticamente a assertativa de Protágoras?

M - Pela mesma razão que no passado levou as massas a aderirem entusiasticamente a Ptolomeu e a seu esquema  - Geocêntrico; expresso no Almagesto - ou pela mesma razão que ainda hoje leva tanta gente a rejeitar a evolução biológica dos seres vivos... numa palavra: toda esta gente é impulsionada por motivações de cárater puramente subjetivo...

Queremos dizer com isto que a maioria de nós aprecia sobremodo tudo quanto exalte ou eleve ao máximo a terra, a humanidade ou mesmo a si mesmo. Folgava o homem antigo em estar situado no centro do universo, desfrutando duma condição aparentemente excepcional e privilegiada; e de todas as atenções...

Como folgam os criacionistas em apresentar o homem como fruto duma criação particular em oposição aos demais animais e seres vivos, classificados destarte como formas muito inferiores ou brutais enquanto desprovidas de alma, intelecto e volitividade.

Assim muitos sentem-se lizongeados ao serem encarados como juizes exclusivos da realidade que os cerca e forjadores de suas próprias verdades. Tudo isto é uma questão de vontade que diz respeito a megalopátia atávica ou ancestral de que sofre uma parte do gênero humano.

D - Explica-me

M - O homem é um ser extremamente vaidoso e cheio de sí, deleitando-se em abraçar as fábulas que colocam seu mundo como centro do universo, sua espécie como centro do mundo, ou sua pessoa como centro da espécie; tais afirmações ptolomaicas, Ken Hanianas ou Randianas lizongeiam-no e levam-no ao cúmulo do paroxismo...

O homem gosta de imaginar a si mesmo como superior a tudo e como árbitro de tudo... por isso - como uma remora - adere com entusiasmo a tese subjetivista e relativista expressa por Protagoras, Górgias e cia os quais apresentam-no COMO CENTRO DO PROCESSO COGNITIVO... Processo que no entanto é bi polar e da parte do sujeito cognoscente gregário.

Centro do qual fica desde já expulso a coisa ou o objeto...

Após ter sido durante tantos séculos encarado como o centro do universo material e da natureza o homem transplantou ingenuamente esta fé - geocentrica/ antropocentrica - para mundo intelectual. No entanto ele não é o que pretende ou deseja ser e as contradições que verificamos entre os juizos individuais - que por isto anulam-se a si mesmos - evidenciam-no claramente.

Outro não é o cárater do voluntarismo e do fenomenologismo... Este último por sinal - dado largas a metafísica materialista ou ao empirismo desbragado - sustenta que existir é ser percebido, e percebido - obviamente - pelo homem!!! Como se o fato de ser percebido pelo homem comunicasse (magicamente) existência ao objeto percebido (!!!)... ou que este fosse incapaz de existir sem ser captado por nós. Contra semelhante delírio é suficiente alegar a existência de milhões e milhões de estrelas que jamais serão percebidas por qualquer ser humano, bem como a existência de espécies de animais e vegetais que jamais serão classificados por nós...

Todas as entidades acima apontadas existem e subsistem sem o placet do gênero humano...

E o curso do universo, no mais das vezes, segue inalteradamente se fazer caso de nossas vontades... de nossa percepção... e de nossos juízos artificiais. Como seres infinitamente menores do que o universo já deveríamos ter aprendido a regular nossa vontade, nossa percepção e nossos juízos pelo universo ou pelos elementos materiais e não segundo os caprichos de nossa vontade. Para muitos no entanto esta 'submissão' a realidade material, as coisas, aos objetos, etc SEMPRE PARECERÁ HUMILHANTE E INSUPORTÁVEL.

Tais pessoas aspiram de fato por estarem situadas acima de tudo e o individualismo, o subjetivismo, o relativismo, etc são ideologias que se prestam muito bem a este tipo de 'serviço': MASSAGEAR O ÉGO DOS SERES HUMANOS COMPLEXADOS...






D - Qual o primeiro passo no caminho do saber?

M - O primeiro passo no caminho do saber é a percepção ou o ato de percebermos o mundo que nos cerca CAPTANDO SUAS IMPRESSÕES POR MEIO DOS SENTIDOS.

D - Muitos imaginam que o conhecimento tenha origem na mente; assim Kant que sendo idealista subjetivo, postula a existência de categorias de sensibilidade a priori, isto é que precedem a qualquer tipo de experiência a ponto de determinarem o cárater da experiência.

M - Que todos os conhecimentos passem pela mente humana - sob pena de são serem formulados -  na medida em que são construídos a partir de um esquema estrutural chamado lógica é uma coisa; que tenham seu ponto de partida nela é bem outra. Somente os racionalistas admitem que o pensamento seja capaz de produzir algum tipo relevante de saber independentemente da experiência... a ponto de - com Leibnitz e outros - terem forjado uma metafísica que toca as raias do gnosticismo, das fábulas e da mitologia...

A perspectiva do interacionistas é perfeitamente distinta de tudo isto...

D - Explica-me.

M - Coisa excelente é a mente humana. No entanto até que os ouvidos do feto estejam formados, por volta do terceiro mês de gestação, o cérebro - anterior a eles em um mês - (ou a mente) permanece vazio; só a partir de então as impressões de som começam captadas pelo sentido da audição e arquivadas na memória inconsciente. As demais capacidades sensoriais: visão, olfato e paladar  não podem ser postas em práticas no interior do ventre materno.

Nascem os bebes com armazenagem sensorial quase que exclusivamente sonora.

Portanto quando nascem ou são postos a luz, trazem muito pouco ou quase que nenhum conhecimento.

Tampouco os conhecimentos obtidos pelas crianças, jovens e adultos partem do cérebro ou da mente, como Atenas partiu de Zeus seu pai, mas do mundo exterior, atingindo a mente por meio dos sentidos. É assim explorando o mundo e em contato com ele - interagindo - que aprendemos.

D - Assim sendo o conhecimento tem origem nos sentidos?

M - Daí Agostinho - nas 'Confissões' - descrever os sentidos como as portas e janelas do palácio da alma ou da mente.

D - Diz pois quais sejam tais portas e janelas e o que cada uma delas é capaz de captar.

M - Cinco são os sentidos presentes no homem e cada um deles, via de regra, concentrado num órgão distinto e caracterizado por um feixe de nervos capaz de ser excitado por um tipo de impressão particular seja o som, o odor, o gosto ou a cor. Nós imaginamos que tal feixe especializado seja tão sensível a ponto de colher ou receber impressões sob a forma de emanações materiais compostas por partículas isoladamente imperceptíveis...

O primeiro e talvez o mais importante de todos é a visão, cujo órgão duplo é representado por nossos olhos ou globos oculares. A visão é responsável pela apreensão imediata das cores e formas.

O segundo é a audição, cujo órgão duplo é representado por nossos ouvidos. A audição é responsável por captar os sons.

O terceiro deles é o olfato, cujo orgão duplo é composto pelas narinas (situadas uma ao lado da outra), composto no entanto por suas narinas. A olfação é responsável pela apreensão imediata dos cheiros ou odores.

O quarto é o paladar, cujo orgão único é a boca ou melhor dizendo a lingua. A gustação é responsável pela apreensão imediata dos sabores.

O quinto e último dos sentidos é o tato, cujos orgãos primários são nossas mãos (aqui mais uma vez a duplicidade) e secundários nosso pés. O tato é responsável pela apreensão imediata das texturas, mediata das formas, ocasionalmente dos sons e muito raramente das cores.

Os dados coletados pelos sentidos recebem a designação de sensações ou de impressões sensoriais conforme sejam visuais, auditivas, olfativas, gustativas ou tateis.

Tais sensações são as responsáveis pela exploração e pelo reconhecimento do mundo externo e pela aquisição dos saberes ou da matéria primária do saber.

D - É verdade que alguns conhecimentos podem ser recebidos por via extra sensorial?

M - Aqui devemos fazer uma distinção necessária.

D - Sim.

M - Devemos distinguir muito bem entre comunicação ou recepção de uma informação ou saber já sabido e a aquisição ou descoberta de um novo saber.

Observada esta distinção a honestidade obriga-nos a reconhecer que em certas circunstâncias incontroláveis, via de regra relacionadas com os sentimentos, as emoções e a vida propriamente subjetiva, certas informações são comunicadas por via extra sensorial ou como se diz comumente por telepatia.

Neste sentido as investigações de Warcollier são contundentes. Richet, Miers, Gurney, De Rochas, Gibier, Notzing, etc ja haviam se referido a tal faculdade ao menos de passagem em seus manuais; FREUD em seu epistolário e JUNG em suas pesquisas. No entanto jamais foi dito ou registrado que este processo inusitado lograsse extrair qualquer tipo de conhecimento novo ou que já não estivesse presente na mente do sujeito transmissor.

Donde admitindo a existência rara e episódica do fenômeno - por uma questão de probidade - não admitimos que ele possa interferir significativamente no processo de construção ou obtenção do conhecimento, processo que é por assim dizer, apanágio exclusivo da ciência ao menos em termos de natureza.

Nosso foco aqui, por sinal, não é como os saberes são transmitidos, mas como são adquiridos e formulados. Rivalizam a telepatia e a percepção extra sensorial com com os códigos de linguagem e com a comunicação mas não com a percepção e o intelecto.

Assim sendo a respeito deles nada temos que dizer ou julgar neste tratado.

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