M - Da mesma forma como o eu é verdadeiro para si mesmo, os objetos conhecidos tornam-se verdadeiros para ele. Assim a verdade ontológica presente no objeto tende a se tornar-se lógica na medida em que vem a ser absorvida pelo sujeito cognoscente.
D - Como?
M - Penso que não podemos deixar de percebe-los como de fato são na medida em que participam todos daquelas categorias cuja veracidade já apontamos.
Examinemos o primeiro deles, referente ao ser:
Observe que ao negarmos sua plena certeza, negando-a afirma-mo-la simultaneamente.
D - Agora complicou!
M - Então preste bastante atenção: Quem nega a veracidade do ser ipso facto reconhece que a negação dele, isto é o não ser, é diferente de sua afirmação (o ser), ora reconhecer que a afirmação não é a mesma coisa que a negação no que tange ao ser é admitir o princípio que estamos pondo em duvida...
Conclusão: a condição mesma do ser em oposição ao não ser, conduz-nos naturalmente ao princípio de contradição. São conceitos de certa forma aparentados, pois se pudéssemos atingir ou anular um deles, comprometeríamos o outro, destruiríamos as demais categorias e invalidaríamos a própria estrutura do juízo.
Resta-nos concluir que o ser, o eu e o princípio de contradição são conceitos inter relacionados ou relativos uns aos outros.
D - Penso que esta categoria de 'ser' seja demasiado genérica ou abstrata; assim não sabemos de que ser se trata...
M - Podes, se preferires, imaginar este ser como o mundo externo a ti mesmo ou os elementos do mundo.
D - Ainda me parece demasiado especulativo.
M - No entanto como assevera Descartes nada de mais certo após o eu:
"Sabendo que comumente os sentidos comportam mais o testemunho da verdade que o da falsidade quanto as coisas que dizem respeito ao conforto e ao desconforto do meu corpo...
Percebi que este meu corpo esta situado entre outros tantos corpos, QUE O PODIAM AFETAR DE MANERIA DIVERSA: AGRADÁVEL OU DESAGRÁDAVEL...
Percebia assim razões que me levavam a crer que aqueles objetos e coisas eram distintos de meu próprio pensamento, a saber: os corpos donde procediam tais sensações pareciam manifestar-se SEM QUE HOUVESSE QUALQUER TIPO DE CONSENTIMENTO DE MINHA PARTE, DE MODO QUE NÃO ME ERA DADO, PERCEBER A MEU TALANTE UM OBJETO QUALQUER PORQUE ASPIRASSE OU DEIXAR DE PERCEBER A MEU TALANTE QUALQUER OBJETO POSTO DIANTE DE MIM...
Por outro lado perquirindo minha memória eu podia como que perceber que alguns desses objetos jamais havia estado lá; a ponto de surpreender-me quando tomei conhecimento deles; como pois podiam estar presentes em mim e serem causadas por mim se me surpreendiam??? Então eu cogitava terem sido causadas em mim por outras coisas...
Assim a natureza ensina-me que em volta de mim mesmo existem outras entidades ou objetos, alguns dos quais desejo aproximar-me e outros dos quais tendo a afastar-me... umas me proporcionam deleite ou conforto e outras desconforto ou dor. " in "Meditações sobre a Filosofia primeira"
D - Agora compreendo.
M - Então expõe.
D - Três são os indícios que nos autorizam a concluir favoravelmente a respeito da realidade do mundo externo ao eu:
- Não tenho pleno controle a respeito daquilo que percebo: captando fenômenos e sensações que não desejaria captar e não sendo capaz de produzir sempre e infalivelmente os fenômenos e sensações que desejaria perceber.
- Surpreendo-me diante de certos fenômenos; mormente daqueles que classifico como 'novos' ou até então ignorados por mim. Por outro lado, caso eu mesmo fosse responsável pela produção dos fenômenos que percebo não teria porque ignora-los ou surpreender-me face a eles...
- As ideias sensíveis ou percepções atuam sobre mim, muitas deves de maneria indesejável produzindo desconforto e dor. Como poderia proceder de mim mesmo uma sensação que não só se opõe a mim ou a minha vontade; mas que seria capaz de destruir meu próprio ser???
M - Exato. Donde só nos resta admitir a existência de um mundo externo a nós e irredutível a nosso pensamento e a nossa vontade; um mundo com que dialogamos tendo em vista a obtenção do conhecimento.
Interessantíssimo o seu diálogo filosófico.
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