segunda-feira, 2 de março de 2009

Livro I - dos fundamentos racionais ou intelectuais da fé: Demonstração das capacidades cognitivas do homem.



Nosso bom condutor!!!



Discípulo: Reverendo pai e mestre porque devemos buscar a justificação racional de nossa fé?

Mestre: Primeiramente porque Deus sendo sumamente bom só fez coisas boas. Portanto se fez o homem racional e livre devemos inferir que a racionalidade e a liberdade correspondam a benefícios de origem divina.

A razão existe para encaminhar-nos dignamente a fé e a liberdade para abraça-la meritoriamente.

Aparentemente não é possível honrar a Natureza divina sem proceder racionalmente.


Discípulo: Por que vossa graça diz 'aparentemente'?

Mestre: Porque dentre os fanáticos há quem dela desconfie e julgue estar em oposição a fé. Como se tivesse sido criada pelo Diabo.

Discípulo: Diante disto que caminho tomar?

Mestre: Julgo ser mais fácil ter o Diabo sido produzido pela imaginação humana do que ter sido a natureza humana sob qualquer aspecto possível produzida por um princípio maligno. Admitir que o tal Diabo tenha criado ou produzido qualquer coisa é da-lo por Criador ou parceiro da divindade...

Discípulo: Daí apontarmos a divindade como fonte da racionalidade?

Mestre: E inferirmos ser necessariamente boa, enquanto fruto de um Deus Benevolente.

Nem pode haver mais de um Criador, nem pode este Criador produzir algo que não seja Bom.

Afinal "A árvore boa não pode produzir maus frutos."

Eis porque não é possível reverenciar a Excelsa divindade e recusar-se a fazer uso da razão.

Admitido que a razão proceda de Deus só nos resta concluir que tenha em vista nosso fim último que é a Unidade divina.

Supor que o Deus bom fosse capaz de ofertar algo prejudicial ou danoso aos seres humanos - como uma espécia de 'caixa de Pandora' -  se nos parece contraditório e irreverente.

Assim se a razão procede da Santa divindade como os raios de luz procedem do sol, devemos abraçar, sem restrições, o seu testemunho pois em última analise recebe-lo é dar ouvidos ao próprio Deus. Por outro lado todo aquele que desconfia da razão, em última análise desconfia de Deus.

Acaso teus amigos e parentes não se sentem felizes quando fazes uso de um presente qualquer ofertado por eles? E chateados caso não faças uso daquilo que te deram?

Logo, recusar-se a fazer uso duma dádiva comunicada pelo Deus bom só pode equivaler a uma decisão má.

Eis porque convém a fé satisfazer as exigências postas pela razão humana para fazer jus ao título de 'esclarecida'. Digna da natureza humana é a fé esclarecida, indigna dela a fé cega ou crédula.

Do contrário a pena apostólica não teria feito tal admoestação aos santos: "Daí a quem pedir as razões de vossa gloriosa esperança."

Ao tornar-se compreensível ou teológica é que a fé Ortodoxa contempla todas as aspirações de nossa condição racional e atinge sua plenitude. 

Crê pois o Ortodoxo mas para compreender. Se a razão conduz o homem a fé, a Ortodoxia conduz o homem da fé ao conhecimento das coisas divinas. 

Discipulo: Há quem sustente ter sido a razão totalmente obscurecida pelo pecado ancestral, isto a ponto do homem natural assemelhar-se mais a um pedregulho ou a um pedaço de madeira do que a qualquer outra coisa. (Lutero in "Servo arbítrio" - Flacio Ilyric - Amsdorf etc)...

Mestre: A princípio fosse o pecado uma substância ou entidade existente em si mesma até poderíamos convir que fosse capaz de alterar radicalmente a substância boa produzida pelo Bom Deus.

Todavia bem mesmo isto se verifica.

Já porque todo ente substancial tenha sido produzido pelo Deus Bom nosso Criador, sendo por isso mesmo bom.

Dai os escritos judaicos - alias já citados por nós - observarem até com certa ingenuidade: VIU ELE QUE ISTO OU AQUILO ERA BOM. E nem poderia ter sido diferente, tendo o Deus Bom produzido entidades ou substâncias más.

Noutras palavras: Para ser substancial ou existente em si mesmo o pecado deveria ter sido criado pelo Deus Bom, o que implica contradição de termos. 

Pois aquilo que é mau em si mesmo - e o pecado é um mal em si mesmo - não pode ter sua origem ou fonte naquilo que é infinitamente Bom.

Concluímos portanto -  com Agostinho de Hipona - que o pecado não seja substância que exista em si mesma e por si mesma, mas um fenômeno de ordem moral ou valorativa que subsiste -E apenas enquanto acidente provisório - na essência boa criada pelo Deus Bom ou seja no homem. Tendo sido produzido por ele. Tal a origem do pecado!

Destarte podemos definir o mal ou o pecado como um desvio de vontade por parte do ser racional e livre (no caso o homem) quanto a vontade Suprema, perfeita, eterna e infinita, que é o supremo critério do bem e da virtude. Pecado não é ser mas relação de dissonância ou de discordância entre duas vontades, a divina e a humana. Tal a definição oferecida por Orígenes, no 'Contra Celso'

Que tal opção uma vez tomada afete de algum modo a condição da substância criada não podemos coloca-lo em dúvida. Que possa destrui-la, aniquila-la ou corrompe-la por completo é o que negamos. Aqui defronta-mo-nos mais uma vez, com um resíduo ou herança do maniqueísmo, e consequentemente com um elemento inconciliável com os fundamentos da fé imaculada e pura.

Para aquilatarmos com justeza semelhante doutrina consideremos antes de tudo que a 'Imagem e semelhança' de Deus sempre foi compreendida pelos padres e doutores da igreja como alusiva a capacidade racional e a livre vontade do homem. Tal o veredito de S João Damasceno nosso pai, no livro da 'Fé Ortodoxa'.

Admitidos tais pressupostos como admitir que a Imagem e Semelhança posta pelo próprio Deus Todo poderoso na criatura humana pudesse ter sido completamente apagada ou destruída por instigação de um ser de categoria inferior seja o próprio homem ou um suposto anjo caído?

Sendo todo efeito proporcional a causa como seria possível a um agente de ordem inferior, seja  humano ou angelical, obscurecer ou aniquilar por completo uma obra de ordem superior como as capacidades comunicadas pelo Deus Todo poderoso a natureza humana?

Como admitir que uma relação não substancial como o pecado tenha sido capaz de desfigurar uma essencial ou substância produzida pelo Deus Todo Poderoso?

Postular que uma ação humana ou diabólica tenha sido capaz de suplantar, desfazer ou reverter a obra divina, implica admitir que o homem ou o Diabo sejam mais fortes e poderosos do que a Santa divindade e mergulhar de cabeça no dualismo mazdeísta...

Eis nossos padres, os padres gregos da igreja, referem-se a natureza humana - particularmente a livre vontade - como ferida ou fragilizada e jamais como totalmente corrompida ou depravada, jamais como reduzida a uma condição irracional ou a insanidade.

Do contrário o apóstolo e comendador de Jesus Cristo não teria registrado - na primeira parte da primeira carta direcionada a congregação de Corinto - que os pagãos tiveram acesso ao conhecimento de Deus, o Criador, por meio da contemplação da natureza criada ou seja refletindo sobre as maravilhas da criação.

O que supõe necessariamente uma capacidade racional. Do mesmo modo o já citado convite para oferecermos a quem solicitar as razões de nossa esperança supõe a mesma capacidade.

O que esta de pleno acordo com a demonstração Aristotélica reaproveitada pelo Aquinate na Summa.

E com tantos quantos discursaram sobriamente a respeito da Santa divindade partindo da razãonou da contemplação racional do Universo, assim Pitagoras, Xenofanes, Apolônio, Anaxagoras, Sócrates, Platão, Cleanto, etc

Alguns dos quais como Epimênides mereceram ser contados entre os profetas pelos próprios apóstolos. Enquanto outros foram citados com grande reverência por Justino, Clemente, Origenes, Eusébio, Nisseno, Fócio, Psellos, etc Isto ponto de até mesmo um deformador protestante como Zwinglio, ter ousado inserir alguns deles no Reino celestial de Jesus Cristo merecendo ser cesurado pelo Dr Martinho Lutero. 

Mesmo A Neander - luterano - no primeiro livro sobre a 'História da Igreja primitiva' não pôde deixar de pintar com vivas cores a atração exercida pelo Cristianismo especialmente sobre os adeptos do pórtico... Dando a entender que a natureza pode aspirar pela graça e preparar-se para recebe-la. Tal e qual lemos nos Atos dos Santos apóstolos a respeito do centurião Cornélio, cujas santas obras atraíram o beneplácito da divindade, merecendo a luz da fé.

Movido por tais fatos mesmo o severo Tertuliano foi constrangido a descrever a alma humana como 'Naturalmente Cristã'  já no segundo século desta Era... no século seguinte foi a vez de Eusébio descrever a Filosofia pagã como uma Preparação para o advento do Senhor Jesus Cristo e do Evangelho.

Diante de tudo isto só nos resta concluir que a operação do pecado em nada tolheu as capacidades do intelecto humano permanecendo este perfeitamente capaz de discernir a verdade. A exemplo da moeda de ouro ou prata que ao cair na lama não é afetada em sua composição interna; bastando ser lavada e purificada para poder circular.

Discípulo - Admitidos tais pressupostos por onde devemos iniciar a demonstração da fé?

Mestre - Do mesmo modo e maneira como ao construir um edifício qualquer principiamos pelos fundamentos ou alicerces, devemos principiar a demonstração dá fé por seu fundamento ou alicerce mais remoto que é a existência de Deus, buscando demonstra-la em termos puramente racionais. Eis porque o preâmbulo da Teologia será sempre e necessariamente a Filosofia.

Uma vez que a palavra religião, procede da palavra latina religare (cf Terentius Varro apud Agostinho de Hipona in 'Civita Dei') que significa religar ou ligar o homem a Deus - ou seja, um ente visível e sensível a um ente invisível e supra sensível - devemos principiar nossa demonstração pela existência do único elemento a respeito de cuja existência - Pelo simples fato de ser supra sensível - podemos duvidar; Deus. 

Escusados estamos de demonstrar a existência do primeiro elemento na medida em que a grande maioria dos seres humanos esta plenamente convencida a respeito da própria existência.

Tanto melhor pois partiremos duma certeza segura e certa a respeito de algo que não podemos por em dúvida ou questionar - Pelo simples fato de ser evidente por si mesmo - para ver se atingimos a certeza a respeito daquilo que não sendo evidente por si mesmo é capaz de suscitar questionamentos. Principiaremos pela demonstração de Deus partindo da existência do próprio homem... A partir da imagem veremos se conseguimos atingir o protótipo e a partir daquilo que é mais evidente tentaremos atingir aquilo que é menos evidente.

Tal demonstração é fundamental sob pena de não haver qualquer tipo de ligação ou de religação. Caso concluamos pela inexistência do segundo elemento. Destarte não faria o fenômeno religioso qualquer sentido e isto pelo simples fato de uma ligação só ser possível entre duas entidades distintas...

Em inexistindo Deus não há Legislador ou Revelador, lei natural ou revelação.

Principiemos pois pelo começo justificando a existência do Supremo Ser. Este foi o caminho escolhido pelo escolástico quando registrou: "Parece que Deus existe, verifiquemos se de fato assim o é..." este será o primeiro passo de nossa longa, mas proveitosa e fecunda caminhada.

D - De que modo vossa graça pretende demonstrar a existência de Deus?

M - Já disse que pretendo estabelecer a existência do Supremo Ser por via natural de especulação ou de reflexão intelectiva, isto é, sem jamais recorrer a autoridade dos 'homens base' ou de livros sagrados e sem jamais fazer petições e empréstimos ao terreno da fé.

D - Não seria muito mais rápido, fácil e proveitoso recorrer as escrituras ou ao testemunho da mãe Igreja?

M - Talvez. No enanto nem sempre aquilo que é mais fácil é melhor ou mais conveniente, ou ainda mais excelente.

Tenhamos sempre em vista que a escritura e a igreja possuem uma autoridade bastante restrita na medida em que só possuem mérito e valor para aqueles que se acham sob o jugo da fé, para os demais, que repudiam-nas, seu testemunho não é digno de confiança.

Por outro lado parece-me que tomar a Igreja, as escrituras ou a fé como padrões para a demonstração de Deus implica inverter a ordem correta da demonstração supondo que Deus procede da Igreja, das escrituras ou da fé, enquanto na verdade ele é anterior a tudo: a igreja, as escrituras e a fé... e fonte de todas as coisas.

Ademais o simples apelo a princípios particulares - Sejam de natureza eclesiástica, evangélica ou fideísta - tornaria inviável a controvérsia a que nos propomos pelo simples fato de colocar fora do raio da discussão justamente aqueles aos quais esperamos persuadir, ou seja, os ateus, os materialistas, os agnósticos e os infiéis; afinal membro algum destes grupos admitiria recurso as autoridades que nós Cristãos consideramos legítimas.

Seríamos obrigados a excluir do debate a maior parte do gênero humano e a prejudicar seus interesses caso optássemos por recorrer aos elementos da fé com o objetivo de vindicar a fé. Teríamos uma demonstração eficiente, mas certamente bastante restrita.

Caso tomássemos por critério alguns princípios válidos tão somente para nós e portanto parciais e exclusivistas resultaria encarar-nos a nós mesmos como a maior e melhor parte da humanidade, o que de modo algum condiz com o 'éthos' Católico, mas com a atitude excludente e vaidosa dos sectários e dos predestinados com a qual não podemos compactuar. 

Afinal o Bom Mestre exortou-nos a anunciar o Evangelho a todos os seres humanos, de todas as nações, povos e culturas e portanto também aos ateus, materialistas, agnósticos e infiéis. Donde se segue que o povo de Jesus Cristo esta obrigado a dar competente resposta a todas as questões propostas por tais categorias de pessoas, buscando apresentar soluções aceitáveis dentro de um terreno comum.

Alias Diálogo supõem um elemento comum.


D - E qual seria o terreno ou elemento comum?

M - Na razão, no intelecto reflexivo ou no elemento inteligível temos um elemento universal e comum disposto para a aquisição de verdades básicas como a existência de Deus, embora Agripa e antes dele Enesidemo tenham elencado uma série de alegações (Tropos) contra ele, as quais devemos examinar com a devida atenção.

Como no entanto a razão é por assim dizer 'vazia' antes da formação dos órgãos sensoriais e como depende da percepção para captar os elementos a serem 'trabalhados' por si, chegamos ao elemento sensorial ou sensível por meio do qual percebemos o universo material em que vivemos ou a realidade que nos cerca e interagimos com ela. E é claro que este aparato é universal.

Todavia como sua capacidade tem sido impugnada desde os primórdios da Filosofia por Xenófanes, Parmênides, Heráclito e Demócrito, dentre outros; temos de considerar as críticas de que tem sido objeto. Afinal de que adiantaria a razão processar adequadamente informações falsas ou aparentes?


Por fim, como nenhum de nós ousa duvidar seriamente quanto a própria existência, quanto a existência dos fenômenos externos a si e quanto a existência dos demais seres humanos; além de jamais conformar-se com a afasia, cessando de argumentar ou de discutir, encontramos outro elemento comum ou universal nas partes do discurso.

Partiremos assim da consciência e do discurso para alguns conceitos fundamentais ou axiomáticos a respeito dos quais ninguém ousa duvidar para ver se a partir deles avançamos um pouco e justificamos o elemento sensível e enfim o elemento racional, estabelecendo alguma possibilidade para o conhecimento. 



D - Implica isto em demonstrar cientificamente a existência de Deus?


M - Isto dependerá apenas do conceito que temos de ciência. 

Alias há tantos.

D - Qual o motivo da diversidade?

M - Ideologia.

D - ???
M - A eterna disputa entre materialismo e realismo ou como alguns costumam dizer, pejorativamente, 'idealismo', da qual resulta uma segunda polêmica não menos feroz entre empiristas, conceitualistas e racionalistas, e; consequentemente definições rivais de ciência. Temos assim a positivista, a de W Dilthey, a dos neo positivistas (Neurath e Carnap), a de T S Kuhn, a teoria relativista de K Popper, etc

Com efeito, caso assumamos um discurso empírico/positivista não. Não podemos provar cientificamente a existência de Deus ou de qualquer entidade imaterial.

A questão aqui é se este discurso empirico/positivista é ideologicamente neutro ou comprometido. Pois na medida em que condena irremissivelmente qualquer construção metafísica pautada na dedução racional, e parte ele mesmo de uma elaboração metafísica arbitrariamente imposta, neste caso temos um problema.


D - Que tipo de problema?

M - O problema do materialismo, o qual como o ateísmo não passa de elaboração metafísica derivada do senso comum. Pois ao invés de corresponder a um dado imediatamente captado pelos sentidos ou experimentado é o materialismo elaboração ideal relativa a capacidade de nossos sentidos para perceberem ou não a realidade em sua totalidade. É justamente a capacidade dos sentidos para esgotarem a realidade que não se pode demonstrar empiricamente. Ter fé na capacidade dos sentidos para captarem tudo quanto existe é simplesmente ter fé.

D - A tarefa de demonstrar que existe algo para além dos sentidos ou que não possa ser captado por eles não caberia aos adversários do materialismo?

M - Uma vez que percebemos apenas por meio dos sentidos materiais como poderíamos perceber o imaterial? Suposta sua existência permaneceria sempre imperceptível. De qualquer forma o que pretendemos não é impor como absolutamente verdadeira a hipótese de que hajam outros modos de existir distintos do nosso, mas solicitar que as mentes estejam abertas e dispostas a considerar a hipótese. 


Queremos dizer com isto que nossa capacidade racional ou dedutiva deva ser considerada e que temos de discutir honestamente a questão da metafisica ao invés de engolir metafísica materialista como ciência.

Neste sentido, caso adotemos uma definição mais compreensiva de ciência - Enquanto método rigoroso do qual resultam conhecimentos válidos e verdadeiros - sim. Adotado este ponto de vista, temos justificada a metafísica e a partir dela a demonstração racional sobre a existência de Deus.

D - Devo entender tais palavras como uma confissão de que seja impossível demonstrar empiricamente a existência de Deus.

M - Por definição, enquanto entidade imaterial, Deus é, por assim dizer, imperceptível. Não esta na via de acesso da dos sentidos ou da percepção. 

Admitida a hipótese segundo a qual Deus exista não pode ser experimentado ou percebido permanecendo sempre além de nossa capacidade sensível posta somente para as entidades materiais que nos cercam.

Não pode Deus sob qualquer alegação ou pretexto ser visto, ouvido, cheirado, saboreado ou tocado.


Por outro lado introduzir a materialidade e a composição no ser divino implica negar a própria noção de Deus e, consequentemente sua existência... Donde se infere, que a existência de Deus não possa ser empiricamente verificada e que a noção estrita e corrente de conhecimento científico (empirico/materialista) exclua a existência de Deus.

D - Poderia retomar o discurso relativo a existência de Deus e a ciência em termos mais claros? Pois não compreendi muito bem.

M - Certamente. Já dissemos que para responder a semelhante indagação devemos ter em mente que seja a Ciência e qual seja seu método.

D - Continue

M - De acordo com a acepção vigente nos  mais altos círculos acadêmicos (E canonizada por eles) 'A tarefa da ciência consiste em investigar o universo ou a natureza com o intuito de perceber como ela funciona e compreender suas leis: "Relações de causa e efeito que partem da natureza mesma das coisas." Implica isto observar, prestar atenção, concentrar os sentidos, executar experiencias e refletir a respeito do significado de cada uma delas.'

Eis o método científico: Empírico, analítico, sintético e abstrato somente quanto ao último estádio, a formulação daquilo a que chamamos Lei. Pois se a ciência principia pela percepção dos fenômenos e pelo exame detalhado dos mesmos nem por isso o processo - do começo ao fim - se dá em termos de experiencialidade pura com total exclusão do elemento racional ou especulativo.

Tanto pior - para os empiristas puros - caso levemos em consideração o conceito científico de Teoria, enquanto busca por uma explicação que estabeleça relações de Unidade entre todas as Leis. Impossível estabelecer esta relação totalizante sem fugir a experiencialidade pura e recorrer ao apanágio da razão. Não foi aleatória e caprichosamente que K Popper tendo em vista a extensão do aparato racional implicado na formulação da psicanalise e do evolucionismo, classificou tais teorias como falaciosas e anti científicas. Discordamos totalmente quanto ao juízo de valor tecido pelo epistemólogo austríaco, mas concordamos com a alegação: Toda teoria científica é construção metafísica ao menos em sentido operacional, por recorrer em larga medida a dedução e fugir aos limites do estrito empirismo.

D - O que colocaria em xeque as alegações anti metafísicas canonizadas pelos materialistas (sic) e semi céticos (Agnósticos)?

M- Os materialistas além de fazerem uma metafísica desonesta, que jamais se assume enquanto tal, chegam inclusive a apresentam a ciência como materialista e portanto o materialismo como dado empírico, o que implica falsear a realidade.

Até seriam honestos caso declarassem que nós não somos capazes de provar a existência de Deus nos domínios da materialidade ou da percepção sensorial ou que não somos capazes de atingir a mente em si mesma. Reconhecemos que seja assim - Não podemos atingir Deus ou a mente em si mesmos.

Mas que dizer diante das alegações segundo as quais são capazes de demonstrar científica ou empiricamente a inexistência de Deus e da mente? Como podem demonstrar material ou 'cientificamente' a inexistência de entidades materiais? A não ser dizendo que não existe absolutamente nada que não possa ser captado pelos sentidos... Agora desde quando dizer ou alegar equivale a 'demonstrar material ou empiricamente'. Estranha esta empiria feita apenas com palavras...

Tal a incongruência de uma metafísica miserável que é, comumente, vendida como ciência.


Outra, e bem mais especiosa, é a argumentação dos semi céticos ou agnósticos, os quais são verdadeiramente anti metafísicos e portanto nem materialistas nem realistas. 

D - Que dizem eles?

M -  Alegam que o método científico esta disposto para criaturas ou fenômenos físicos cuja existência se faz e esgota na materialidade e que tudo quanto se encontre para além da materialidade e da ciência (Única forma de conhecimento de que dispomos legitimamente!) seja inverificável - Assim Deus, a mente, etc

Eles não aderem ao realismo e tampouco materialismo. Por isso apresentam a ciência não como materialista (Uma vez que não admitem nem repudiam a existência de quaisquer entidades imateriais, abstendo-se de julgar a questão) mas como MATERIAL.


Tal o campo, área ou terreno pertencente a 'ciência': A dimensão material dos seres que possuem forma limitada e composição. Trabalha a ciência com substâncias, células, moléculas, átomos, partículas, etc o que exclui, por definição, o Ser Divino bem como o conceito de mente imaterial.

Buscar uma demonstração a respeito de Deus na dimensão material do Ser equivaleria a demonstrar que o cavalo é um vegetal ou que é bétula é um mineral...

Deus não pertence a ciência, e tampouco a mente, é o que dizem.


D - E nós, que dizemos?

M - Tudo quanto podemos dizer é que a definição e consequentemente o posicionamento deles é valido nos termos estreitos do positivismo, e acrescentar, sem embargo deles existem outros tipos de conhecimentos válidos para além da ciência 'pura' (Absolutamente empírica), assim a demonstração dedutiva fundamentada em nossa capacidade racional ou a Metafísica.

D - Esta seria capaz de examinar a Divindade ou a Mente do homem?

M - Tudo quanto a metafísica pretende é demonstrar a existência de Deus e da mente, não examinar tais entidades em si mesmas. A metafísica se dá por satisfeita com demonstrar sem pretender expor na medida em que lhe faltam os meios necessários para examinar os objetos vislumbrados. 

D - E como demonstra?

M - O fundamento de toda metafísica é a lei da causalidade, atacada pela primeira vez não pelo inglês D Hume mas pelo sagaz Aenesidemus. Parte assim a Metafísica do efeito em direção da causa, dando por certo que não haja efeito se causa que o preceda. Assim do Kosmos ou do Universo para a Divindade e dos fenômenos psíquicos para a mente.

Da mesma maneira como a partir de determinados fenômenos irredutíveis a simples corporalidade a Psicologia realista deduz a existência de uma mente imaterial associada ao corpo e na posse de um cérebro, a Teodiceia, a partir da Ordem existente no Universo conclui por um elemento ordenador e a partir das leis que governam a própria matéria, bem como as relações humanas e sociais um Legislador supremo.

D - Logo devemos concluir pela inacessibilidade dos sentidos ao Ser?

M - Que o Ser fosse inacessível aos sentidos já havia sido dito e muito bem dito por Xenófanes, Parmenides e Zeno. Os quais no entanto caíram no erro de desprezar o testemunho dos sentidos em sua totalidade e de menosprezar a realidade dos fenômenos.

Caso admitamos que Deus possa ser definido em termos de 'Espírito' ou como entidade isenta de matéria, de forma e de composição não há como fugir a doutrina da inacessibilidade. Deus é inteligível apenas, jamais perceptível, nem podemos sentir Deus mas apenas concebe-lo ou pensa-lo a partir do Universo. 

Anaxágoras foi um dos primeiros ou o primeiro a mencionar o aspecto imaterial de Deus sob o termo 'Nous' que em nossa lingua equivale a mente ou a espírito. Da ordem existente neste universo (Certa desordem não elimina a ordem! - Um quarto pode estar um pouco bagunçado e ainda assim apresentar uma ordem geral segundo a disposição dos móveis) e da incapacidade da matéria em termos de inteligência, teve de concluir por um elemento imaterial.

Eis porque a mãe igreja costuma referir-se a ele em termos de 'Puríssimo Espírito' reproduzindo a sentença dos padres reunidos no segundo concilio de Niceia, os quais atribuindo certa materialidade aos anjos, descreveram o SER DIVINO como "O único ser plena e absolutamente espiritual, isento de forma ou composição."

Tal definição foi sumamente necessária tendo em vista a crença bárbara e grosseira dos antigos israelitas registrada no livro do Gênesis, segundo a qual deus teria criado o homem a sua imagem e semelhança inspirando-se em sua própria condição corpórea, material e finita. Eis porque, registram os escribas, javé subia, descia, passeava pelo jardim, falava, aspirava vapores de sangue e carne queimada, etc Erro ultimamente reeditado pelo profeta mormón Joseph Smith.

Ora nós não cremos num Deus com forma humana ou num velho de barbas brancas sentado num trono posto sobre as nuvens. Certamente este 'deus' inexiste. Quando aludimos ao Ser ou a Deus aludimos ao Ilimitado, Infinito, Atemporal (Eterno), Incorpóreo, Impassível... Nos mesmos termos que os eleatas. Não, no Ser não há determinações humanas. Ele certamente contém em si o conceito de pessoa e todos os conceitos existentes, mas ultrapassa-o bem podendo ser apresentado como supra pessoal. Só podemos compreender a ESSÊNCIA divina por meio da negação e sua vontade pela maximização de tudo quanto seja bom e virtuoso.

Estabelecido por definição que Deus seja isento de materialidade, fica a demonstrado que sua existência esteja para além dos limites da simples empiria ou do conceito prevalecente de ciência. Queremos dizer com isto que em termos de materialidade "Deus de fato não existe" (Górgias de Leontinum) o que não quer dizer que inexista em sentido absoluto, mas que subsiste doutro modo, totalmente distinto do nosso e enquanto entidade puramente espiritual.

E inexistindo materialmente não pode ser captado por nossos sentidos, percebido ou 'cientificamente' averiguado. Em termos convencionais de ciência é indemonstrável a existência de Deus... E já foi dito que se fosse demonstrável deveríamos duvidar seriamente de que fosse Deus.

Isto porém não significa que sua existência não possa ser estabelecida noutros termos que não o científico, positivo e empírico adequado as entidades materiais, ou por outra via, uma via distinta, assim a inteligível ou racional, especulativa ou metafísica. 

Efetivamente Deus, por definição, não pertence ao campo da experiencialidade e esta fora dele. Introduzir o discurso teísta no discurso cientificamente ortodoxo e acenar com falsas e levianas promessas segundo as quais no futuro a existência de Deus haverá de ser cientificamente demonstrada implica fasear ou a correta noção de Deus ou a noção de ciência. A menos que compreendamos o termo ciência enquanto conhecimento válido, sem consideração do método. 

Penso no entanto que não valha a pena travar batalhas no domínio dos conceitos - Ele ficam com a ciência empírica e nos assumimos e vindicamos a capacidade metafísica do ser humano. Em oposição ao meio ceticismo oportunista e a delimitação arbitrária proposta por Kant.


D - Que dizer então dos ateus que segundo dizes pretendem demonstrar a inexistência de Deus?

M - Os ateus que pretendem estabelecer semelhante demonstração optam necessariamente por uma das duas vias, a empírico/científica - A qual como já certificaremos é indiretamente metafísica - e a assumidamente metafisica.

Examinemos cada discurso separadamente.

Os que optam pela via empírica - como Dawkins, Harris, Dennet, Hitchens, etc - alardeando que a existência de Deus é cientificamente (Leia-se empiricamente) indemonstrável, pronunciam uma obviedade que beira a tolice. Já foi dito que Deus é empiricamente indemonstrável por definição.

Importa saber se a ciência, a empiria, a percepção, a sensação, os sentidos podem perceber tudo quanto existe de modo que nada haja fora de seu alcance??? Agora como sabe-lo experimentalmente ou melhor como saber que não se pode saber ou saber o que não se pode saber???

Afinal como categoria de ser que se coloca para além da matéria e que apresenta-se como espiritual, caso exista acha-se definitivamente para além de nossos sentidos e percepção. Se é espiritual é cientificamente inverificável uma vez que o conhecimento científico está situado nos limites da materialidade.

Logo quando os ateus dizem que Deus inexiste porque não pode ser cientificamente demonstrado ultrapassam de imediato, dos domínios da ciência - A qual só pode pronunciar-se a respeito do que existe materialmente - e avançam para o terreno da metafísica materialista dando por certo, segundo e indubitável que tudo quando exista seja material e possa ser percebido pelos sentidos. É dar o imaterial por impossível... Agora que empirismo puro há em declarar ou dizer que algo seja impossível???

É impossível porque não posso percebe-lo? E desde quando posso demonstrar empiricamente que sou capaz de perceber tudo e que nada resta de existente para além de minha capacidade???


Dar por inexistente o que não pode ser verificado ou o que não esta no acesso da percepção sensorial é pura e simples metafísica.

Implica julgar, crer, pensar que nossas sensações esgotam a realidade como um todo. Como se pode perceber facilmente nada disto equivale a uma demonstração empírica. O Empirismo é empiricamente indemonstrável como o materialismo é materialmente indemonstrável; não passam de meras construções ideológicas ou de especulações tal e qual o racionalismo, o conceitualismo, o realismo, o idealismo, etc

Busca a ciência compreender as entidades materiais...  Já limitar a existência dos seres a categoria material daqueles que são verificáveis por nós é pura metafisica, praticamente um ato de fé.

Pressupõe tal teoria que sejamos capazes de conhecer tudo quando exista. O que talvez não passe duma pretensão atávica engendrada pelo antropocentrismo ou geocentrismo megalopático. Nem mesmo Platão e Aristóteles, porta vozes do dogmatismo, ousaram estender nossa capacidade cognitiva aos extremos em que chega o empirismo, postulando que saibamos absolutamente tudo!

Afinal sequer podemos perceber o infra vermelho e o ultra violeta percebidos por nossos irmãos inferiores... a  radiação... as partículas... os confins do universo... o interior de um buraco negro... Há tantas coisas que não podemos perceber e que ignoramos nos próprios domínios da materialidade...

Diante disto como pretender que nossos sentidos sejam capazes de esgotar todas as formas de existência??? Se nem mesmo a realidade que nos envolve são capazes de esgotar???

Tendo em vista nossa pequenez é bem mais plausível que existam inúmeras outras formas e categorias de ser a respeito das quais jamais viremos sequer suspeitar. Isto no plano da própria materialidade caso considerarmos a vastidão do universo e a formação de nossos sentidos, a qual, sem embargo não deve ser compreendida enquanto incapacidade absoluta. Uma coisa é a limitação e outra a falsidade do que se sabe.

Assim se negamos - com o velho Platão - que o homem tudo saiba, não negamos que possa estar em posse de algumas verdades.


A cada nova descoberta poderíamos exclamar com o mais sábio dos gregos: 'Só sei que nada sei.' aludindo a tudo quanto desconhecemos sobre os fenômenos materiais que compõem este nosso universo. 

E se sabemos ainda tão pouco a respeito do plano material como ousamos negar a simples possibilidade do imaterial ou de outras formas de materialidade??? Para fechar-mo-nos hermeticamente no bojo duma materialidade a respeito da qual tão pouco sabemos...

Os metafísicos materialistas no entanto teimam em identificar ou confundir o existente com o empiricamente demonstrável ou perceptível... asseverando que tudo percebemos, sem exceção possível! Daí Deus, enquanto entidade espiritual, não ter espaço em seu esquema de mundo... O que obriga-os - por uma questão de coerência - a repudiar já a noção de causalidade já o princípio de contradição, chegando aos confins do ceticismo crasso e relativizando o conhecimento científico. Dando origem a essas associações epistemológicas aberrantes - materialismo, agnosticismo, relativismo, subjetivismo... formadas por termos excludentes (Mas o princípio de contradição...)

Temos no entanto de ser francos. Vender essa metafísica ateística ou esse Frankstein epistemológico como um dado cientificamente verificado é dar gato por lebre e embrenhar-se pelos caminhos escusos da desonestidade! É passar a largo dos grandes problemas que tocam a Filosofia e malbarata-la segundo determina a velha 'tradição' positivista, igualmente infensa a dimensão ética da vida!!! Aqui como diria Fayerabend o cruzamento da ciência com a ideologia implique talvez certas relações de poder a respeito das quais não é possível discutir agora.

Excelente autoridade é Dawkins em seu campo que é a biologia ou a etologia, e longe de mim, pobre 'sapateiro' discordar dele ou negar-lhe o crédito a que faz jus. Agora quando passa levianamente ao terreno da filosofia ou da metafisica sem possuir os necessários pressupostos, discursando sem o devido conhecimento de causa a respeito de categorias que supinamente ignora e ULTRAPASSANDO A DEMARCAÇÃO fixada por seus próprios pares; ai somos nós que temos o direito de dizer-lhe: Sapateiro não passe dos sapatos!!! Reproche que já lhe havia sido direcionado pelo honestíssimo Jay Gould.

Leu Homero, Platão, Aristóteles, Vírgilio, Ovídeo, Laertius, Gélio, Ateneu, Clemente, Eusébio, Stobeu, Scottus, Descartes, Bacon, etc??? Caso não tenha lido, não passe dos sapatos e não venda metafísica barata ou de quinta categoria como supra sumo da ciência! E tudo isto para no fim das contas declarar que há QUASE que total certeza a respeito da inexistência de Deus. Meu S Arcesilau! Meu S Carneades! Meu S Filon de Larissa - Ainda na verossimilhança ou na periferia da verdade acima de assunto tão importante. Nietzsche ao menos ousou declarar que Deus estava morto, para o grande Dawkins esta QUASE morto... E temos ainda uma QUASE verdade e um QUASE ateísmo!

Afinal estamos absolutamente certos e convencidos de que haja uma alma do mundo, consciência universal e lei Suprem; não quase certos como quem opina ou estabelece uma Hipótese.


Há no entanto outro grupo de ateus, tanto mais ousados e tanto mais covardes, o qual não se contentando em dizer que Deus não existe porque não é perceptível ou empiricamente demonstrável (eles percebem que este argumento é demasiado pobre) tomam a peito argumentar especulativamente a respeito da inexistência de Deus buscando demonstra-la em termos puramente racionais ou intelectuais.

Tal o caso de Seb Faure no afamado livro 'Doze provas contra a existência de Deus'...

No primeiro caso depara-mo-nos com o ateismo enquanto epifenomeno ou manifestação da metafisica materialista.

Neste depara-mo-nos face a face com a metafísica ateística na medida em que foge ao discurso vigente ou predominante: Empirista, materialista, positivista, etc para acompanhar os devaneios da razão ou do racionalismo desbragado, que como alegavam os positivistas ortodoxos, conduzem ao mundo dos sonhos e da fantasia.

D - Vossa paternidade quer dizer que o ateismo e o materialismo são expressões de ordem metafísica?

M - Nem preciso dize-lo eu.

Declararam-no explicitamente David Hume - Na crítica ao entendimento humano - I Kant - na Razão pura - A Conte, Huxley, Spencer, Mill, Ayer, Heidegger, e muitos outros pensadores modernos e contemporâneos, assaz apreciados por nossos contraditores.

D - Tenho conhecimento de que muitos ateus e materialistas apresentam-se como agnósticos, céticos e anti metafísicos. (!!!????!!!)

M - A ser exato tal conhecimento devemos esforçar-nos para decifrar o porque desta híbrida associação e confusão mostruosa

Apresentar-se alguém como cético e ateu ou como agnóstico e materialista implica miserável contradição de termos. Aqui mais uma vez a norma e regra permenidiana tão louvada por Aristóteles, é como que estuprada pelos arrivistas da Filosofia contemporânea ou melhor dizendo (aqui uma homenagem a Lutero) da pseudo Filosofia de esgoto.

Cuspida, escarrada e...!!!

Pois enquanto o agnóstico afirma ser impossível saber qualquer coisa a respeito do que esteja para além de nossa experiência e o cético professa não ter qualquer tipo de certeza e de tudo duvidar suspendendo o juízo e chegando já a adiaforia, já a afasia; tanto o ateu quanto o materialista pretendem saber algo e saber algo a respeito do que esta para além... E sabe-lo sem reservas ou hesitação. 


Assim enquanto o primeiro pretende saber com toda certeza que Deus não existe o segundo pretende saber que tudo quando existe é material. 

E no entanto, como dissemos, tais saberes estão para além da fronteira ou da demarcação proposta pelos próprios epistemólogos da ciência; sendo por isso mesmo empiricamente indemonstráveis e consequentemente entidades ideias concebidas pela mente, entidades metafísicas ou especulativas que levam os empiristas consequentes a exasperação. 

A contradição aqui é manifesta e irredutível. Pois não se poder ignorar e saber ou duvidar e conhecer, julgar e não julgar ao mesmo tempo.  Confessamos que não sabemos coisa alguma de modo geral (Ou a respeito do que esta para além da capacidade de nossos sentidos e de nossa razão - e neste caso somos agnósticos) ou asseveramos saber que não existe Deus algum e que somos capazes de argumentar a respeito de sua inexistência. Neste caso somos ateus, dogmáticos e metafísicos, nem céticos e tampouco agnósticos. Afirmar que se sabe e que não se sabe ao mesmo tempo é puro e simples deboche...

Também não se pode fazer profissão de dúvida absoluta e alardear que nada exista de real além de entidades materiais... Duvidar e ter certeza são atitudes excludentes, antagônicas e inconciliáveis...

Neste caso ser ateu e agnóstico ou ser materialista e cético faz tanto sentido como ser brasileiro e chinês, palmeirense e santista, negro e caucasiano, vegetariano e carnivoro, alto e baixo, gordo e magro, mamifero e réptil... Implica ignorar verdadeiramente que seja ateismo, materialismo, agnosticismo, ceticismo, gnoseologia, etc; e implica em ser um idiota, farsante e charlatão!!!

Uma das causas desta patacoada, salseiro ou pandega infernal deve-se certamente ao esforço com que certos ateus buscam ou procuram ir no reboque do agnosticismo, explorando a noção popular de ateísmo enquanto mera negação da crença religiosa ou da Revelação (O que de modo algum implica em negar ou reconhecer a existência de Deus). Desta oportuna tolice a outra e mais outra se vai num passo... Destarte alegam alguns ateus - arbitrariamente é claro - que a metafisica como um todo gira em torno da afirmação da existência de Deus e que nega-la consiste em assumir uma postura anti metafísica... (Bravo!!!). Associado a afasia, a simples crença ou opinião, pleno acordo; agora se tenta argumentar ou demonstrar...

Acontece que nem Hume, nem Kant, nem Conte, nem Heidegger (ou qualquer outro santo padroeiro) ousaram formular tão disparatada conclusão. Para eles a definição de metafisica não estava atrelada necessariamente a questão da existência ou mesmo da inexistência de Deus e sim a gnoseologia, a noética, a criteriologia, a epistemologia, a ontologia, etc ou seja a origem e a credibilidade do conhecimento humano e as modalidades ou categorias do ser. Como se vê o cenário é muito, mas muito mais amplo. De modo que o cético ousando argumentar em torno de seu ceticismo torna-se metafísico e dogmático como já dizia Sexto, e antes dele o patriarca Pirro, recomendando a afasia, ou seja o silêncio, a recusa em argumentar, debater, discutir uma vez que tudo isto pressupõem alguma certeza e o cético de tudo dúvida inclusive do ceticismo - Não AFIRMA a dúvida, como observa V Brochard, suspende o juízo até mesmo quanto a dúvida e declara não poder saber se é possível ou não saber. 

Agora como alguém que nada sabe em absoluto pode argumentar ou discutir? Argumenta ou discute quem sabe não ser capaz de saber, este no entanto, torna Sexto, não é cético e contradiz a si mesmo expondo-se ao vexame. 

De fato tais homens buscaram 'Fixar as colunas de Hércules do entendimento humano dizendo: daqui não passareis...' asseverando que tudo quanto estava para além da experiência sensível; constituía exercício estéril e inútil de metafisica. Ficando assim De Broussais, Faure e apaniguados, a 'fina força' associados a Tomás de Aquino, a Descartes, a Leibnitz e suas respectivas escolas; na medida em que uns e outros ultrapassaram a demarcação ou fronteira estabelecida pela natureza, digo pelos sentidos; embrenhando-se pelos caminhos imaginiosos da 'razão pura'. 

Caminhos ou meandros que pertenceriam ao mundo da metafísica, mundo de cores, sombras, sonhos e fantasias... De possibilidades, mistérios e enigmas indecifráveis. Mas de modo algum ao mundo real. 

A bem da verdade a maior parte dos ateus nutre tanto respeito por Hume, Kant, Comte, Huxley e Heiddeger que não exita incorpora-los a tropa. Afinal que dizer a respeito de uma apologética capaz de apresentar Da Vinci, Galileu, Bruno, Newton, Diderot, Voltaire, Rousseau, Darwin, etc como ateus??? São os ateus honorários elevados a tal patamar pelo simples fato de terem tecido críticas a religião, a superstição ou mesmo ao teísmo vulgar... Mas que seriedade e honestidade há em tudo isto??? 

Afinal nenhum deles chegou a afirmar que Deus não existia mas apenas que a demonstração em termos puramente especulativos era irrelevante e indigna de consideração. Hume - que serviu de modelo a Comte e Huxley - morreu asseverando nada saber de concreto a respeito, fosse a favor ou contra. Kant associou a metafisica a axiologia no livro da 'Razão prática' - Exatamente como Hípias de Elis havia feito vinte e dois séculos antes - buscando demonstrar (Neste terreno apenas) a existência de Deus enquanto absolutamente necessária a vida Ética e Heidegger negou enfaticamente ser ateu. Perceba como os ateus acham-se apartados de suas principais referências intelectuais e como são classificados por elas - juntamente com os escolásticos da idade média - como metafísicos...

O mesmo podemos dizer a respeito dos franceses.

Neste caso a situação é ainda mais grave na medida em que os queridos Voltaire, Diderot e Russeau (frequentemente alistados como ateus) ERAM METAFÍSICOS RACIONALISTAS OU DEÍSTAS, como definiram-se a si mesmos repetidamente em suas obras. Fazendo alarde em matéria de Ética ou moralidade e até antecipando Dostoevsky. Voltaire sequer admitia a existência de moralidade sem imortalidade da alma e castigos, dando-os por absolutamente necessários e verazes a exemplo do velho Platão. 

Eis porque os neoateus esforçam-se sobremodo por ocultar seu posicionamento, por confundir e baralhar as coisas e por mistificar fazendo galas de agnósticos e/ou céticos, o que de modo algum são, na medida em que ultrapassam os limites fixados por seus maiores... Quando apresentam-se como agnósticos estão pagando o devido tributo ao papa da Filosofia contemporânea: I Kant; e quando brincam de Descartes as avessa, traindo sordidamente o pensador de Koenisberg... É que não ousam fazer sombra ao Luterano alemão que pretendeu glorificar a fé irracional e cega.

Sub repticiamente por ai vão fazendo metafísica anti metafisica ou metafisica enrustida... metafisica tímida, metafisica envergonhada,  metafisica invertida... metafisica do não ser... e a emenda sai pior do que o soneto.

Nós no entanto, sem fazer qualquer caso das opiniões dos srs Hume, Kant, Comte, Huxley e Heidegger... ja esboçadas pelos Heraclianos, sofistas, céticos... desde a mais remota antiguidade, continuamos a fazer metafísica como Platão, Aristóteles, Aquino, Descartes, Liebnitz, etc os quais nem deixaram de examinar todas as objeções levantadas, nem eram uns idiotas. Leia os tópicos contra os sofistas de Aristóteles que achara algo lá, leia os fragmentos de Antioco de Ascalon e sofisma algum reeditado por Hume te surpreenderá. 

Temos aqui um grupo que faz honestamente sua metafisica e outro que procede de maneira enganosa e leviana.

D - No caso quantos seriam os tipos ou formas de saber humano.

M - Imagine uma pirâmide composta por três andares ou compartimentos sucessivos mas bem distintos.

Comecemos pela base.

A base de nossos conhecimentos diz respeito ao mundo natural em que vivemos, o qual nos é dado conhecer pela via sensível da percepção bem como pela via inteligível da razão, cujo fundamento é a capacidade de abstrair. Da síntese destas duas vias - Empírica e Racional procede o conhecimento científico.

O Filósofo postulará: "Nada há na mente que não tenha passado pelos sentidos."

Foi o inglês John Locke, em oposição ao platonismo reinante, que reeditou sua opinião ao descrever a mente de um feto como equivalendo a 'Uma tabua rasa' ou seja como um quadro de giz absolutamente limpo e sem nada escrito.

 (Em que pese a existência comprovada da telepatia recurso por meio do qual, em certas condições excepcionais, alguns pensamentos possam ser diretamente comunicados - i é extra sensorialmente -não nos parece que este meio seja capaz de transmitir os conceitos em sua puridade ou isentos de vínculos afetivos; menos ainda de produzi-los. NÃO SE TRATA PORTANTO DE ALGO QUE ALTERE RADICALMENTE AS CIRCUNSTÂNCIAS EM TERMOS DE CIÊNCIA OU FILOSOFIA)

Grosso modo a teoria intelectualista, conceitual ou empírico racionalista permanece absolutamente válida; ao menos no que diz respeito ao conhecimento das entidades materiais que constituem este nosso universo.

Neste terreno os equívocos em que ordinariamente incorre a percepção (comum) são corrigidos pela razão e os devaneios da razão contidos pelo veículo da percepção enquanto padrão de realidade externa. Uma via corrige e depura a outra tornando o conhecimento seguro. 

Não podemos no entanto corroborar a opinião dos positivistas segundo a qual a ciência - em geral as matemáticas ou exatas - 'ortodoxa' ou empírica constitua a única forma possível de conhecimento.

D - Neste caso qual seriam as outras?

M - O segundo tipo de saber é o especulativo ou racional por meio do qual, abstraindo e deduzindo conceitos, formulando axiomas e sobretudo analisando as causas atingimos algumas verdades básicas que nos fogem por completo a experiencialidade, assim o Ser, a existência de Deus, a sobrevivência da alma, etc

Este tipo de saber ou conhecimento também encontra-se presente em maior ou menor medida na lógica, na epistemologia, na gnoseologia, na metafisica, na axiologia, etc 

Conhecimentos a respeito dos quais os positivistas ortodoxos não podem abrir mão mas a respeito dos quais os racionalistas e espiritualistas demonstraram serem irredutíveis a 'experiência pura'...

Acha-se da mesma maneira embutido na psicologia. Na medida em que os fatos psicológicos, especialmente os de natureza inconsciente, mas também a própria consciência e fenômenos como a sugestão, constrangem-nos a formular o conceito de mente enquanto algo distinto do cérebro mas não como algo independente e sim como algo associado ou vinculado.

E até mesmo na Sociologia quanto a velha e decantada disputa - Materialismo e Idealismo. 

O terceiro tipo de saber diz respeito a intuição e a fé.

A fé diz respeito das coisas imateriais ou futuras que são inacessíveis a razão ou a metafísica e que por isso mesmo são supostamente reveladas por Deus a guiza de complemento e transmitidas pela via da autoridade. Tal o mediação exercida pela Encarnação do Verbo Jesus Cristo e mantida fielmente pela sucessão apostólica dos Bispos ortodoxos.

Este conhecimento - De caráter mais nobre, se veraz - diz respeito já a essência divina já a vontade divina sobrepondo-se as outras duas instâncias, articulando-se com elas e formando - para os que creem - uma unidade perfeita e edifício harmonioso; a saber, o homem integral. A um tempo de ciência ou experiencialidade, a um tempo de metafísica ou racionalidade e a outro de fé ou religiosidade. 

D - No caso quantos tipos de céticos existem?

M - Estritamente falando há apenas um tipo de cético, aquele que assume a Epoché ou a suspensão de juízo. Tal a perspectiva de Sexto a qual remonta a Pirro de Elis e a Timon de Fleiunte. 
Não se trata aqui de afirmar a dúvida ou qualquer coisa, mas de duvidar de absolutamente tudo a ponto de sequer saber se é possível ou não saber qualquer coisa.

Afirmar a dúvida e converte-la em dogma ou regra seria trair sordidamente o ceticismo, arrematada o 'esculápio' romano.

Neste caso o cético não esta convencido a respeito do próprio ceticismo?

Não esta convencido a respeito de qualquer coisa, insiste ele.

E por isso, segundo Pirro, não discute, não dialoga, não argumenta e tampouco busca defender o ceticismo uma vez que sequer esta certo dele. Duvidando de absolutamente tudo só lhe resta encerrar-se no mutismo, silenciar-se (Afasia) isolar-se e deixar-se levar pela corrente da vida sem resistência, vivendo como todos, adequando-se ao senso comum e atingindo a ataraxia ou ainda a adiaforia (neutralidade), a ponto de nada afeta-lo, nem mesmo o bem, o mal, a injustiça, o crime... 


Grosso modo no entanto temos o ceticismo dogmático ou contraditório, que é de longe o mais comum. O meio ceticismo probabilista e diversas outras formas 'moderadas' ou medidas de ceticismo; do naturalismo agnóstico (Que nega a metafísica e quase sempre a religiosidade) ao solifideísmo religioso (Que nega a ciência e a metafísica).

O ceticismo solifideista diz respeito aqueles que tendo abraçado alguma fé passam a questionar a capacidade racional do homem, sua percepção ou mesmo a capacidade de se transmitir algum conhecimento por meio da linguagem.

O primeiro tipo é o de Lutero - para quem a razão era uma prostituta louca e Aristóteles um pagão imundo - e de seus seguidores ortodoxos. Foi esta teoria religiosa que inspirou a crítica de Kant ao potencial metafísico do intelecto, isto a ponto de ser apelidado por alguns como 'O filosofo de Lutero' (Ele mesmo declarou ter se esforçado para abater a razão com o intuito de 'Exaltar a fé' isto é a fé cega e irracional...). Também os imames muçulmanos Achari e Gazalli (Este no Martelo da Filosofia) exploraram esta vila, fornecendo o apoio ideológico necessário a ortodoxia corânica na perspectiva sunita, eliminando a oposição racionalista (mutazila) e debilitando a própria escolástica, doravante alimentada apenas pela xiia ou pelos alidas. Entre os papistas esta posição foi assumida tanto por Gentil Hervetius quanto pelos ditos 'tradicionalistas' anteriores ao Vaticano I.

O segundo tipo é o de Montaigne, o qual após ter lido os Tropos de Aenesidemus e Agripa além das exposições de Sexto e forcejando amplia-los ainda mais asseverou ter se refugiado na autoridade da fé segundo o exemplo de Agostinho. Esse M Montaigne era homem profundamente religioso e não menos desiludido quanto a razão e a percepção contra as quais arenga a todo momento.

O terceiro tipo é o de Agostinho, pai do irracionalismo e do fideismo epistemológico nos pódromos da instituição Cristã. Tal o Agostinho evocado não só por Lutero e Montaigne, mas por Estevão Tempier, chanceler da Universidade de Paris em sua Bula publicada contra Tomás de Aquino o qual, baseando-se no perípato, sustentara a capacidade do homem compreender e demonstrar racionalmente a existência de Deus.

Agostinho sempre temeu exercer uma crítica tanto mais profunda a respeito de suas próprias idéias talvez pelo receio instintivo de que no fundo no fundo, algum de seus críticos (como o dialético Juliano de Aeclanus) topasse com ainda mais vestígios de maniqueismo, expondo-o ainda mais e tornando sua posição ainda mais vulnerável, especialmente face aos padres gregos, consumados apologistas de Justino, Atenágoras e Teófilo a Eusébio e Cirilo No entanto o maniqueismo subjaz em toda sua doutrina a respeito do homem, da graça, do corpo e mesmo do entendimento humano ou melhor da linguagem e da comunicação entre os seres humanos, setor em que lançou as bases do relativismo. 

Decorre disto que ele jamais tenha aprofundado a questão nos termos dum Lutero, ferreteando a razão com os apodos de doida ou meretriz... ou criticando exageradamente a capacidade de nossos sentidos, o que chocaria a opinião publica do tempo.

No De magistro (E demais obras iniciais compostas imediatamente após a decepção maniquéia) todavia, teceu considerações bastante interessantes sobre a função da linguagem ou do discurso na transmissão do saber, considerações de teor francamente negativo. Tal e qual Nietzsche e Foucault o Bispo de Hipona bem poderia dizer que subsiste apenas o discurso... e nada mais. Já em sua obra exegética vai explorando tudo que é sentido sem levar em contra o princípio da contradição, vício que parece remontar ao grande Orígenes mas que ele reforça entre os latinos. 

No entanto, como veremos mais além, o mesmo Agostinho - ao menos por algum tempo e certamente em confronto com os acadêmicos  - logrou superar seu ceticismo, chegando inclusive a conceber o argumento do 'Cogito' mil anos antes de Descartes. Lamentavelmente, no fim de sua vida, as controvérsias a respeito da graça vieram a baralhar sua antropologia, fazendo com que torna-se ao vomito fazendo com que fosse arrastado mais uma vez aos confins do ceticismo.

Tampouco rompeu ele com a teoria neo platônica - e absurda - da iluminação.

Segundo Tillich esta curiosa forma de ceticismo consiste em duvidar de tudo quanto seja natural e imanente para abraçar como indubitáveis apenas e tão somente as verdades propostas pela divina Revelação.

O extremo oposto corresponde ao Agnosticismo mitigado ou Deísmo racionalista, que admite o testemunho da ciência e da razão, mas repudia todo e qualquer tipo de Revelação transcendente ou de conhecimento religioso comunicado pela fé. Forma de pensar muito comum entre os filósofos, dentre os quais apenas ínfima minoria tem se apresentado como ateísta.

Há o ceticismo tímido ou  probabilismo formulado por Arcesilaus e Carneades e professado pela nova acadêmia. Segundo este modo e ver o homem limita-se a aproximar-se mais ou menos da verdade, ficando sempre na periferia e sem jamais atingi-la... a versão moderna desta ideologia corresponde a Kant e proximamente a K Popper.

A raiz destes erros consiste em por em duvida o testemunho dos sentidos, da percepção ou da experiência, erro que como vimos remonta a Xenófanes e aos eleatas, tendo sido compartilhado por Heráclito e mesmo por Demócrito e, evidentemente Platão. Apenas os estoicos e epicureus desprenderam-se deles apenas para precipitarem-se nos tentáculos do sensualismo crasso, antevendo o abade Condillac. 

Aqui toda e qualquer tentativa de diálogo é impossível ou infrutífera já que uma das partes não crê que seja possível a criatura racional atingir sua meta que é aquisição da Verdade, supondo que deva satisfazer-se com a dúvida invencível. 

Há por fim o ceticismo metafisico, o qual como já dissemos, consiste em desconfiar do método dedutivo ou da via inteligível e em repudiar 'in totum' a seriedade da metafísica. Identifica-se este modo de pensar com o empirismo crasso e a teoria da experiencialidade pura engenhosamente formulada pelos positivistas...

Nenhum destes tipos ou formas de ceticismo deve ser confundido com o ceticismo provisório ou metodológico empregado por todos os cientistas. Tipo de ceticismo inicial ou de isenção proposto nestes últimos tempos pelo metafísico Cristão R Descartes, mas na verdade preconizado há muito pelo perípato. 

D - Neste caso qual o roteiro a ser seguido por nós?

M - Tomaremos a seguinte direção: Primeiramente analisaremos a credibilidade de nossos sentidos e percepções tendo em vista estabelecer sua capacidade de gnoseologia e impugnar o ceticismo crasso.

Em seguida levantaremos a questão sobre como o homem vem a saber ou seja da indução e da dedução, da experiência e do raciocínio, da análise e da síntese, tendo em vista impugnar o empirismo crasso.

Investigaremos também se o critério da verdade encontra-se nos objetos/coisas ou no homem tendo em vista impugnar o relativismo/idealismo post berckleianos

Finalmente examinaremos as relações existentes entre a aquisição da verdade pelo intelecto e a livre vontade tendo em vista impugnar o subjetivismo post kantiano.

Até encerrarmos nossa discussão examinando o ceticismo religioso e vindicando a possibilidade da fé.

Na primeira fase teremos por opositores Pirro, Timon, Aenesidemus, Agripa Sexto Empíreo, Montaigne, Vayer e Hume procurando responder as objeções levantadas por cada um deles.

Na segunda fase examinaremos os argumentos de Bacon, Locke, Kant, Conte, Huxley, Spencer, Mill, Ingersol, Heidegger, Ayer e outros teóricos anti metafisicos.

Na terceira fase analisaremos os argumentos de Berckeley, Shelling, Fichte, Nietzsche, Avenarius, Mach, Bazarov, Bergson, Foulcaut, Derrida, Barthes, e outros lançados contra o realismo.

Em seguida analisaremos as considerações de kant e seus discípulos no que diz respeito a interferência da vontade no processo de aquisição a verdade, tendo de abordar ao menos de passagem o problema do inconsciente e da psicanálise, considerando a doutrina de S Freud. 

Discutiremos por fim com os deistas ou metafísicos religiosos como Cherbury, Voltaire, Diderot, D Alambert, Russeau, Renan, Tolstoi, etc tentando justificar a existência da fé ou da crença religiosa.

Tentaremos refutar as teses dos antigos sofistas e céticos, bem como de seus continuadores os ingleses e alemães tomando por guias Parmenides, Anaxágoras, Sócrates, Platão e especialmente o divino Aristoteles e o imortal Antioco de Ascalão. Tomando alguns empréstimos a Antístenes, Cleantes, Crísipo, etc

Sustentaremos pois as seguintes teses:

Em ontologia: O dualismo contra os monismos materialista e idealista (espiritualista).

O essencialismo contra o fenomenologismo, sustentando que a simples materialidade do nosso universo esgota-se nos próprios fenômenos percebidos. (Assim repudiamos o dualismo crasso i é a existência de um suposto 'noumeno' ou de qualquer coisa que supostamente se mantenha oculta por trás do fenômeno e inacessível a percepção)

Quanto a possibilidade do conhecimento: O semi dogmatismo contra o ceticismo, vindicando a dignidade dos sentidos e da percepção.

Quanto a essência do conhecimento: O realismo contra o idealismo; postulando a existência real das entidades por nós percebidas.

Quanto a criteriologia: O critério da Evidência ou da objetividade, segundo o que se percebe nitidamente no objeto e a partir do objeto.

Quanto a origem do conhecimento ou epistemologia: O conceitualismo ou empírico racionalismo contra os extremos do empirismo e do racionalismo crassos sustentando a interação (interacionismo) experiência/reflexão.

Recapitulando:


  1. Dualismo metafisico X monismos materialista e imaterialista
  2. Essencialismo X fenomenologismo
  3. Semi dogmatismo X Ceticismo
  4. Realismo X Idealismo
  5. Objetivismo X Subjetivismo/Relativismo
  6. Conceitualismo/intelectualismo X Racionalismo e Empirismo
  7. Comunitarismo sensorial X Individualismo/solipsismo


Tal nosso preâmbulo.

Somente após percorrer este longo trajeto e sanar todos os desvios teóricos concernentes ao potencial cognitivo da espécie humana - em especial a percepção e o raciocínio - estaremos aptos para abordar criticamente a hipótese da existência de Deus.

D - Isto significa que nossa primeira discussão incidirá antes de tudo sobre condição humana, sob os aspectos sensorial e inteligível?

M- Nem mais nem menos, temos de partir do homem e antes de tudo de vindicar sua capacidade cognitiva, numa perspectiva humanista, para só então chegarmos ao problema de Deus. O homem será nosso ponto de partida e temos de saber se ele é capaz de saber alguma coisa ou se estamos nós no domínio da aparência/opinião e não nos domínios da verdade!





Nossa suprema meta!

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